8 de abril de 2012

Aluísio da Cruz Prates


Ex-músico da OSRP se empenha para homenagear os colegas músicos abrindo processos para que seus nomes sejam colocados pelos logradouros de Ribeirão Preto


Desde 2006, quando soube do trabalho de pesquisas sobre a OSRP e a história da música de Ribeirão Preto, o clarinetista Aluísio da Cruz Prates, o “Seu” Aluísio, sempre telefona para informar o paradeiro de antigos músicos e para falar de alguma foto ou partitura que encontrou.  Filho do escritor e memorialista Prisco da Cruz Prates e com recém-completados 87 anos, adora falar da rotina musical da cidade “de antigamente”. 

S. Aluísio conta histórias, mostra fotos e documentos históricos. Foto: Wasim Aluísio Prates Syed

Aprendeu música em Batatais no quartel da polícia com o maestro Alfredo Pires quando tinha 20 anos. Decidiu estudar sax soprano porque era o instrumento disponível e a também a necessidade da banda naquele momento. Passou para clarineta em 1954, por ocasião da aposentadoria do sargento José Joaquim de Oliveira (Juca); “o naipe precisou”, dizendo ainda: “passei apertado porque a clarineta é muito mais difícil; o sax tem chaves e a clarineta tem os orifícios para tampar com os dedos”.


Banda do 3º Batalhão da Polícia Militar de Ribeirão Preto com o Padre Donizetti na cidade de Tambaú por ocasião do aniversário do padre. Foto de 1957. Fonte: Arquivo Pessoal Aluísio da Cruz Prates.

Aluísio da Cruz Prates
Entrou na OSRP a convite do maestro da banda da polícia militar de Ribeirão Preto. Sentiu dificuldades com a mudança de conjunto musical; ”foi difícil porque a dinâmica da banda é diferente da sinfônica, tive que estudar para tocar um som mais aveludado”. Enrico Ziffer era o maestro titular da orquestra entre 1957 e 1962. S. Aluísio atuou na orquestra entre 1961 e 1982. Antes disso, tocou sob a batuta do maestro Ignázio Stábile, titular da orquestra de 1938 a 1955, quando ainda na banda da polícia militar, esta era convidada a tocar com a orquestra a Abertura 1812 de Tchaikovsky, por causa dos tiros de canhão que estão na partitura desta música. 
Maestro Spártaco Rossi
Estudou com o maestro Spártaco Rossi (1910-1993) entre 1962 e 1970, período de atuação deste como titular na OSRP.  Com ele teve aulas particulares de teoria musical e depois fez mais dois anos de teoria e práticas instrumentais no colégio metodista. “Ele chegou aqui muito legal comigo, pedia cópias de música pelo mimeógrafo, me ensinou transposição musical porque minha clarineta era em Si bemol e às vezes apareciam partituras para clarinetas em Do ou em La e eu tinha que dar conta”.
Só saiu da orquestra em 1982 após sofrer uma cirurgia de vesícula, quando não mais conseguiu continuar com os compromissos musicais do conjunto. Tocava então em cerimônias de casamentos com os colegas violinistas, Gilberto e Luiz Baldo. Desde a fundação e até a década de 1990, os músicos da OSRP não recebiam salário, tocavam por amor à música e ganhavam “no máximo um jantar no Pinguim ou na sede da Sinfônica... agradeça que a sinfônica existe, aos abnegados do passado”, diz ele se referindo aos colegas músicos fundadores da OSRP.
Maestro Spártaco Rossi e a OSRP. Década de 1960. Fonte: Aluísio da Cruz Prates.
Em 1993 ficou sabendo da morte de Spartaco Rossi e desde então começou as providências com a ajuda de sua filha, Dra Gláucia Aparecida Prates, para que o nome do maestro fosse designado logradouro público. Agora, depois de quase dez anos conseguiu, assim como também conseguiu anteriormente pelo nome do ex-músico, primeiro flautista e fundador da orquestra Caetano Lania (1908-1992) e do maestro Alfredo Pires (1900-1982), aquele que lhe ensinou música no quartel. “Virar nome de rua é importante porque muita gente vira nome de rua sem ter feito nada, e estes muito fizeram e trabalharam pela Orquestra Sinfônica e pela música de Ribeirão Preto”, finaliza S. Aluísio. 



Gisele Haddad
Publicado na Revista Movimento Vivace abril de 2012