5 de fevereiro de 2012

Documentos Raros

O mais antigo programa de concerto de Ribeirão Preto é de 1923

A imigração italiana em Ribeirão Preto permitiu a presença de seus costumes absorvidos pela sociedade também através da música. Verificamos que grande parte dos músicos que participavam dos conjuntos musicais sinfônicos da época era italiana, o que é exemplificado nos programas de concertos da Sociedade de Concertos Synphonicos de Ribeirão Preto, de 1923, e na contracapa do Programa de Concerto promovido pela Sociedade de Cultura Artística de Ribeirão Preto, em novembro de 1929, onde constam os sobrenomes Gumerato, Beretta, Palmieri e Martoni, entre outros italianos.



Programa do terceiro concerto da Sociedade de Concertos Symphonicos de Ribeirão Preto, do dia 3 de maio de 1923. Fonte: Arquivo Histórico da OSRP.



Capa do Programa de Concerto promovido pela Sociedade de Cultura Artística de Ribeirão Preto, em novembro de 1929. Fonte: Arquivo Pessoal Luís José Baldo.

Um fator a ser considerado é a participação parcial dos mesmos músicos nas duas Sociedades, com a distância de apenas seis anos entre elas e sendo patrocinados na cidade por sociedades musicais distintas. Com a presença da emissora de rádio PRA 7, inaugurada em 1924, que atraía músicos de todo o país para atuar nos programas musicais ao vivo, a cidade de Ribeirão Preto passou a contar com maior diversidade nos gêneros musicais apresentados, mesclando música “clássica” europeia, tangos, temas de óperas, valsas românticas, sambas, boleros e marchas, em conformidade com a tendência das outras rádios nacionais. A rádio contava com uma programação musical intensa e era grande o número de músicos atraídos para a cidade para trabalhar na emissora. Os músicos que tocavam as cordas nas orquestras da rádio eram os participantes das sociedades sinfônicas. 

Tais sociedades tinham vida efêmera, devido às dificuldades financeiras e administrativas para a produção de seus concertos; foram tentativas de se manter em funcionamento instituições que promoviam a “música de qualidade” ouvida apenas pelos cidadãos “de elevada cultura”.

Havia então condições para que a produção de música erudita pudesse acontecer e uma constante preocupação da classe social dominante na tentativa de se formar grupos orquestrais sinfônicos. Isso tudo era favorecido pela grande oferta de músicos que poderiam atender a elite nas atividades das sociedades musicais. Esta elite buscava se diferenciar culturalmente por meio de temas, técnicas e estilos dotados de valor cultural específico, favorecendo a existência dos grupos que os produziam - no caso, foi a música erudita que atribuiu a esta elite marcas de distinção reconhecidas e legitimadas por toda a sociedade.


O grau de autonomia de um campo de produção erudita é medido pelo grau em que se mostra capaz de funcionar como um mercado específico, gerador de um tipo de raridade e de valor irredutíveis à raridade e ao valor econômico dos bens em questão, qual seja a raridade e o valor propriamente culturais. (BOURDIEU, 1987, p. 108)



 Gisele Haddad