22 de maio de 2012

74 anos da Sociedade Musical de Ribeirão Preto



A OSRP comemora no dia 23 de maio, 74 anos de fundação de sua mantenedora, a Sociedade Musical de Ribeirão Preto, posteriormente chamada de Associação Lítero-Musical de Ribeirão Preto e atualmente Associação Musical de Ribeirão Preto. Apesar desta data, o concerto inaugural da Orquestra só foi realizado quatro meses depois, em 22 de setembro de 1938, tempo para que os músicos pudessem se preparar.

No início do século XX aconteceram em Ribeirão Preto diversas tentativas para a criação e funcionamento de sociedades musicais sinfônicas. Através de programas de concertos desta época, percebemos que muitos dos nomes envolvidos nessas tentativas também fazem parte da formação da Orquestra de 1938. Esses programas de concertos são indícios de que a OSRP é ainda mais antiga e que apenas a Associação que a mantém, completa agora seus 74 anos. Independentemente da data, o fato é que as pessoas que trabalharam para a prática da música sinfônica na cidade eram verdadeiros idealistas. Tendo como lema "A Boa Música Educa o Povo", frase presente nos primeiros programas de concerto, a Sociedade Musical - Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto pretendia: reunir todos os profissionais nesta Sociedade que seria sindical; o bem estar dos músicos; realizar pelo menos seis concertos anuais aos seus associados e ao público em geral e difundir a cultura musical em Ribeirão Preto.

Seus fundadores foram pessoas de diferentes camadas sociais. Identificamos, entre eles, profissionais como carteiro, fotógrafo, médico, advogado, comerciante, taxista, entre outros e alguns músicos, que se encontravam após o expediente do dia de trabalho para ensaiar. Tocavam por paixão à música.Na primeira página do estatuto de funcionamento desta entidade consta que a Sociedade Musical “nasceu de um punhado de homens idealistas, para afirmar de público que um monumento seria erigido nesta cidade, em homenagem à música”. E esse movimento sintetizaria o símbolo da harmonia reinante no seio da classe musicista que trabalharia em benefício da arte musical, difundindo pela sua orquestra sinfônica a “boa música”, símbolo aristocrático que buscava o aprimoramento
cultural do povo.

Seria então esta Orquestra inicialmente Sinfônica? Não. Nossa orquestra foi fundada com características de filarmônica. A diferença está não no repertório ou na quantidade de instrumentos, mas na maneira como ela se constitui juridicamente e administrativamente. A palavra "sinfônica" indica um repertório composto por sinfonias e também serve para representar alguns grupos musicais mantidos exclusivamente pelo poder público ou de outras sociedades. "Filarmônica" diz respeito às sociedades musicais mantidas por pessoas que demonstram interesse pela música: os amantes, ou amadores que acabam por subsidiar determinados conjuntos orquestrais. O nome "Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto" permaneceu por tradição.

A OSRP ficou logo conhecida, pois era a única no gênero em todo o interior do estado de São Paulo. Contava com alguns maestros, que se alternavam nos 12 primeiros concertos e com músicos amadores. Ignázio Stábile foi o primeiro maestro titular, assumiu a regência em 1941, trabalhou como copista e orquestrador, adaptava as peças musicais para a formação disponível.

Sempre houve por parte da diretoria da Sociedade Musical de Ribeirão Preto a preocupação com a qualidade sonora das apresentações. Desde o início e durante mais de 20 anos, diversos corais da cidade participaram enriquecendo o repertório dos concertos, sendo que na década de 1950, a Orquestra mantinha seu próprio corpo coral, mas que teve curta existência, apresentando-se apenas em três ocasiões.

A Orquestra também incluiu em seus concertos a participação de importantes solistas nacionais e internacionais e maestros convidados. Seu repertório contemplou as obras dos grandes compositores europeus ebrasileiros, com certa predileção pela obra de Carlos Gomes, mas também com espaço para compositores que moravam na cidade: Homero Barreto, Edmundo Russomano, Belmácio Pousa Godinho, IgnázioStábile, entre outros.

Até o final desta mesma década (1950), a Orquestra somava mais de 100 concertos, o que pode ser considerado muito para a época e as circunstâncias. Com poucos recursos financeiros oriundos dos sócios e da posterior subvenção da prefeitura, sua existência foi considerada “um milagre” pela imprensa já em seu primeiro ano de vida, resistindo com o passar dos anos a crises financeiras, administrativas, deficiência de instrumentos, falta de músicos, de sede própria e descrenças, entre outras dificuldades. O reflexo desta realidade pode ser percebido no número de concertos, uma média de 40 a cada 10 anos, quadro que se alterou somente na década 1980, quando o número passa para 73 concertos em 10 anos.

Mesmo com tantas dificuldades, a Orquestra nunca interrompeu suas atividades. Registrou uma preocupação constante com sua qualidade musical, mantendo enquanto pôde o seu Conjunto Coral (1954), a Escola de Instrumentistas (1977), a Camerata de Fesch (1980) e a Orquestra Jovem (1985). Considera a sua responsabilidade social e continua na missão de divulgar a música erudita.

Saudamos Ribeirão Preto por possuir o privilégio de uma Orquestra Sinfônica, hoje profissional. Mais uma vez comemoramos e lembramos o trabalho árduo e o idealismo de todos os seus músicos, fundadores e
administradores, desde o presidente Max Bartsch, as diretorias e os seus sucessores, os patrocinadores, sócios e o público que fizeram e fazem da OSRP, história e tradição, a expressão musical de nossa cidade.


Gisele Haddad - maio/2012.