11 de fevereiro de 2013

Diacrônicas Sinfônicas, Sincrônica Memória







Narrado por compositores contemporâneos, familiares de antigos músicos, pesquisadores e pessoas historicamente ligadas às “sociedades sinfônicas”, o documentário revela um panorama artístico-cultural a partir da fundação de Ribeirão Preto no século XIX. O objetivo é evidenciar a diversidade de agrupamentos de instrumentistas que, na cidade, fizeram a história da música orquestrada. 
“Diacrônicas Sinfônicas, Sincrônica Memória” aborda desde a tradição das potentes bandas de coreto, passando pelas diminutas jazz bands e formações maiores de orquestra até a chegada ao meio acadêmico. A chamada música sinfônica, apesar de sua conhecida estruturação formal, ganha um status mais popular por meio das atividades sociais e estabelece uma relação direta com a vida cotidiana impulsionada pela efervescente economia e importância política da cidade.
O filme parte do universo particular de seus personagens e busca dar voz a fragmentos de memória para então estabelecer uma trajetória comum dessa produção musical, muitas vezes, erroneamente, somente chamada de “clássica”, uma vez que há também a influência da cultura popular nesse tipo de atividade.
O principal suporte metafórico dessa narrativa, um álbum de fotografias, faz o recorte espacial e estabelece uma relação entre afeto e temporalidade. Confeccionado artesanalmente, nos anos 30, pelo taxista Manoel da Silva, o “Album da Saudades” é reconstituído no documentário. Hoje, um importante objeto de pesquisa, esse livro de memórias, preservado pela família, expõe o sentimento saudosista acerca da “Belle Époque Caipira” e o sincretismo cultural herdado das diferentes correntes migratórias ocorridas principalmente no auge do café. Maneco, como era mais conhecido, traduz o espírito diletante dos artistas relembrados: maestros, compositores e instrumentistas que viveram o amadorismo na música, no melhor sentido da expressão.
Dessa forma, por meio de depoimentos, material histórico, recuperação de partituras e um toque de ficção, buscam-se conceitos de diacronia e sincronia sugeridos no título do filme. Embora a grafia e a sonoridade de “Diacrônicas Sinfônicas, Sincrônica Memória” remetam ao hermetismo da erudição que ronda o assunto, a intenção é desconstruir estereótipos formados por causa da segmentação imposta pela elite, que, durante muito tempo, em seus programas de concertos, propagava slogans como “A boa música educa o povo”. O que se tenta, na verdade, é contar uma história antiga que, aparentemente nova, é abastecida por lembranças quase esquecidas. 

Hossame Nakamura