No final da primeira década do século XX, a primeira Grande Guerra era iminente em toda a Europa. A família Bartsch, em sua maioria residia na região de Munique, na Alemanha.
Após várias reuniões, Heinrich Bartsch, o patriarca, em nome da preservação das várias pessoas que compunham o núcleo familiar, comunicou a todos que iriam deixar sua pátria natal.
O primeiro destino, após chegarem em Hamburgo por terra, foi um navio até o porto de Liverpool, na Inglaterra, onde acabaram residindo por um ano e meio. Mas, enquanto o conflito crescia, a terra da rainha mostrou-se um lugar hostil para os germânicos, e cogitou-se a ida para os Estados Unidos. Entretanto, ao final de várias discussões, preferiu a grande maioria, vir para o Brasil, terra ainda pouco explorada, que provavelmente não entraria no conflito.
Chegaram ao porto de Santos e acabaram juntando-se à comunidade alemã, na cidade de Taubaté. Aos poucos, iam recebendo as notícias de que praticamente todos os Bartsch que resolveram ficar na Alemanha, pereceram na guerra.
O irriquieto jovem Max Bartsch, ouviu falar de uma cidade que despontava no interior paulista, que era Ribeirão Preto, e numa longa aventura de caronas em charretes, cavalos e longas caminhadas, chegou ao lugar que adotaria como sua terra pelos tempos vindouros.
Max era um faz tudo. Colocava ferraduras em cavalos, fazia pequenos consertos, mas acabou contratado pela prefeitura como jardineiro. Acostumado aos belos jardins alemães, começou a fazer um plano de urbanização e plantio de árvores nos arredores da cidade, já prevendo uma expansão futura. Seu amor eram as palmeira imperiais, e foi esta sua marca principal.
Foram suas mãos que plantaram as duas fileiras de palmeiras na alameda de entrada da Catedral e também nos vários quarteirões da Avenida Jerônimo Gonçalves, que se conservam até nossos dias.
Os alemães estavam em vários cargos da Companhia Antarctica, uma cervejaria que abastecia não só a cidade, como toda a região. Max começou como cervejeiro, mas em muito pouco tempo, chegou à gerencia geral da fábrica.
Já estava casado com Emília Engracia, falava português muito bem, mas sempre com o forte sotaque que levou por toda a vida. Gostava muito de degustar a cerveja e o chopp que produzia, além do inseparável cachimbo, e, em pouco tempo, seu veio artístico começou a aflorar.
Max tocava um complicado instrumento alemão, chamado cítara, que era um misto de harpa e violão. A cítara, como o violino, tinha vários tipos tanto para acompanhamento quanto para o solo das melodias, variando em tamanho e número de cordas. Devido ao grande número de alemães, em breve conseguiram não só os instrumentos, como também as cordas necessárias e Max mostrou-se um excelente compositor.
Os saraus da cidade passaram a ser muito mais alegres, com as apresentações do Quinteto Max, com valsas e polkas das mais variadas.
Nesta época, em toda casa havia um piano ou alguma pessoa que tocasse ao menos um violino. E assim estas pessoas foram se agrupando e surgiu o núcleo do que seria a orquestra de Ribeirão Preto.
Max começou a perseguir esta idéia com todas suas forças, pois queria uma orquestra digna do belo teatro que aqui se construíra, o Theatro Pedro II. O dinheiro necessário para contratar profissionais, adquirir partituras, manutenção dos instrumentos, condições gerais de ensaio, era obtido tanto na Antarctica, quanto de outros patrocínios e fundos angariados nas várias festas feitas na cidade.
Partindo do quinteto Max, e com a força de vários abnegados, nascia uma orquestra que até hoje é orgulho não só da cidade como de toda a região, que forma vários profissionais na área e que já projetou muitos talentos musicais, fazendo intercâmbio com músicos de todo o mundo.
Ironicamente, Max Bartsch nunca tocou na orquestra, pois a cítara alemã não faz parte dos instrumentos clássicos, mas a felicidade de ver um sonho realizado valeu todos os esforços, naquele que foi um dos maiores orgulhos de sua vida.
Henrique Bartsch,
neto de Max Bartsch
Publicado na revista Movimento Vivace Ano I n. 3 - maio de 2008
Henrique Bartsch
foto: divulgação |
Na madrugada do dia 02/12/2011, faleceu aos 60 anos Henrique Bartsch, neto de Max Bartsch (fundador e primeiro presidente da OSRP) e autor da biografia "Rita Lee mora ao lado”. Em maio de 2008, Henrique publicou um artigo na revista Movimento Vivace por ocasião das festividades dos 70 anos da OSRP. Henrique também foi colaborador do Arquivo Histórico doando em maio de 2011 cópia da foto em que ele e Max estão juntos.