29 de julho de 2011

O Maestro Italiano

A figura do maestro nos grupos musicais pode ser vista pelos mais inocentes como desnecessária. Maestro ou regente, para estes, é aquele que agita os braços sem parar diante do grupo musical. Peça fundamental de grandes conjuntos como orquestras e bandas, é o Maestro quem “toca” a orquestra e centraliza a atividade dos músicos, servindo-lhes de referência principalmente durante a execução das obras musicais.
Muitos foram os Maestros que atuaram na Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto durante os últimos 70 anos. Entre eles, destacamos o primeiro Maestro Titular desta Orquestra: Ignázio Stábile. As informações sobre ele foram obtidas através de fotos, jornais e programas de concertos, entre outros documentos constantes no arquivo da OSRP e do Arquivo Público e Histórico de Ribeirão Preto (APHRP).
Maestro Ignázio Stábile.
Fonte: Arquivo Histórico OSRP
Natural da Itália, tendo nascido em Roma, no dia 1º de fevereiro de 1889, Ignázio Stábile, já muito cedo, dedicou-se à arte musical, tendo realizado o seu curso no conservatório de Nápoles. Sob a sua batuta estiveram diversas bandas e orquestras da Europa e do Oriente, onde deixou bem assinalada a sua grande marca de regente e compositor. Em 1914, foi combatente da primeira Guerra Mundial, defendendo a Itália.
Veio para o Brasil ainda moço, através da turnê da “Grande Companhia Italiana de Operetas Clara Weiss”. Fixou-se na cidade de São Paulo, onde conduziu diversas bandas e orquestras. Em meados de 1930, transferiu-se para Ribeirão Preto para trabalhar na Banda Municipal Giácomo Puccini, que se apresentava nas praças da cidade. Com o dinheiro destinado à manutenção desta banda, mantinha também uma escola de música para os pobres que funcionava no Teatro Carlos Gomes.
Em 1930, participou como regente do concerto de inauguração do Theatro Pedro II e em 13 de agosto de 1936, das comemorações musicais do centenário de nascimento do compositor Carlos Gomes.
A partir de 1938, regia a OSRP concerto sim, concerto não. Nesta época, até 1940, dividia sua regência com o Maestro Antônio Giamarustti. Convidado pela diretoria da OSRP, foi nomeado Maestro Titular, voltando a reger a Sinfônica definitivamente a partir do 13º concerto, em 27 de setembro de 1940. Nesta época, regeu também a Banda Lyra Guarany, em Jardinópolis.
Um dos documentos localizados mostra o Maestro Ignázio Stábile como um homem humilde, que chegava bem mais cedo no Theatro Pedro II para o ensaio da Orquestra, limpava todas as cadeiras, arrumava as estantes e partituras. Quando um músico faltava a dois ensaios consecutivos, ele ia pessoalmente à residência do músico saber o motivo.
Programa da Companhia de Operetas “Clara Weiss” de 1923.
 Fonte: Arquivo Histórico OSRP
Foi querido por todos, mas principalmente por duas pessoas as quais ele chamava de “seus protetores”: Dr. Jardulli, que cedeu ao Maestro Stábile uma de suas residências, sem ônus, desde a sua chegada a Ribeirão Preto e depois de sua morte, sua esposa continuou a morar nesta casa. Dr. Jardulli comentava: “mesmo que eu venha a morrer já deixei em testamento que meus filhos não podem tirar o Maestro Stábile e sua esposa de minha casa enquanto forem vivos”; e o Dr. Pessoa, que por ocasião de sua doença, arranjou-lhe internação e cuidados.
Possuía vários alunos, pois era excelente professor de harmonia e as aulas eram ministradas em sua própria residência.
Programa de Concerto da
Sociedade de Concertos Sinfônicos de São Paulo de 1923.
Fonte: Arquivo Histórico OSRP

Regeu a OSRP em São Paulo, pela inauguração do “Estádio do Pacaembu” onde na oportunidade foi homenageado o então presidente da República Getúlio Vargas, que assistiu sua apresentação com a Orquestra.
Dentre suas inúmeras composições, destacam-se a opereta Riquette, que obteve ruidosos sucessos tanto na Itália, quanto nos demais lugares onde foi executada, além de Sertão (Panorama Folkloristico), Canção Mouresca, Mattinata Interrompida, Frivolité (em parceria com Manfredine) e Conto de Fada (Pequeno Intermezzo).
Ignázio Stábile dedicou toda a sua existência à música, que foi a razão fundamental de sua obra principal. Foi regente da Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto do ano de 1938 até seu falecimento, em 4 de março de 1955.
Maria Lúcia, filha de Luís Baldo (primeiro spalla da OSRP), conta em entrevista que o velório de Ignázio Stábile foi realizado na Catedral Metropolitana de Ribeirão Preto, de onde saiu o cortejo até o Cemitério da Saudade, ao som da Marcha Fúnebre, executada pelo naipe de metais da Orquestra.


Gisele Haddad

arquivohistorico@osrp.org.br

Artigo Publicado na Revista Movimento Vivace Ano I nº 4 junho de 2008