29 de julho de 2011

P.R.A.7

O rádio como meio de comunicação chegou ao Brasil em 1922 e já existia na Europa e Estados Unidos. Assim como os estudantes de telegrafia e radiotelegrafia das cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, que na década de 1920 decidiram aprofundar seus conhecimentos sobre a radiodifusão, um grupo de cidadãos de Ribeirão Preto se uniu a intelectuais, comerciantes e profissionais liberais e fundaram a “Rádio Club”, uma forma de rádio, semelhante aos clubes onde sócios pagam mensalidades. Até então, os únicos meios de comunicação locais eram as revistas e os jornais.
Mesmo com dificuldades e problemas técnicos, foi fundada em 1924 a P.R.A.7 (sigla de prefixo radiofônico nº 7), a primeira emissora de rádio da cidade de Ribeirão Preto que provocou transformações significativas nos costumes e audição de repertórios musicais da sociedade local. Sendo a primeira emissora de rádio do interior de São Paulo, sua existência só foi possível, entre outros fatores, em função do alto desenvolvimento político e social que a cidade conseguiu através de sua economia cafeeira.
Rezende e Santiago, autores do livro “P.R.A.7: A Primeira Rádio do Interior do Brasil” identificam a P.R.A.7 como a sétima emissora do país, atrás apenas das rádios Clube de Pernambuco, Sociedade do Rio de Janeiro, Sociedade Educadora Paulista, Sociedade da Bahia, Club Paranaense e Clube do Brasil (RJ) – todas de capitais de estado.
Conforme seu primeiro estatuto, a rádio visava atuar exclusivamente para fins educacionais, científicos, técnicos e artísticos, com completa abstenção de recursos políticos, industriais e comerciais. Em 1934, passou a cobrir uma área com raio de 300 km e ficou conhecida como “A Estação do Coração de São Paulo”. 


Página de propaganda da P.R.A.7, publicada na “Revista de Ribeirão Preto” em dezembro de 1939.
Fonte: APHMRP.


 A música passou a ser amplamente propagada através da rádio, ultrapassando as fronteiras geográficas locais, quando os programas radiofônicos foram alcançados também em outras cidades. O repertório que apresentava peças tradicionais e do folclore estrangeiro como as composições eruditas de apelo popular, começou a ser modificado pela presença de composições locais, regionais e nacionais primeiramente divulgadas pela emissora com ampla repercussão na cultura local, passando a atingir todos os níveis sociais da população.
A programação ficava por conta das variadas orquestras que participavam com músicas eruditas, jazz, marchinhas e composições próprias e se alternavam com os noticiários sobre a cidade, o país e do mundo. Como era fácil conseguir trabalho, muitos artistas e músicos foram atraídos pela rádio na época de sua fundação.
No folheto de propaganda da rádio direcionado para eventuais anunciantes, localizado no Arquivo Público Municipal de Ribeirão Preto, consta que a rádio contava com a “Orquestra de Concertos”, a “Orquestra de Cordas”, a “Orquestra Russa”, o “Conjunto Regional”, o “Conjunto da Madrugada”, solistas diversos e também um “cast” de 10 cantores. Rezende e Santiago também citam que: “de 1935 a 1940, passaram pelos microfones da PRA-7 os principais cantores e conjuntos musicais do país, entre os quais, Chiquinha Rodrigues, Orlando Silva, Carmen Miranda, Aurora Miranda, Carlos Galhardo, Silvio Caldas, Dircinha e Linda Batista”.
O Jornal “A Cidade” em janeiro de 1934, publicou a programação da rádio para os seus leitores. Consta nele, além dos horários de patrocinadores, que a rádio oferecia os seguintes programas: “Orchestra de Salão da P.R.A-7”; “Orchestra Typica da P.R.A.-7”; “Inecchi”, por Xisto e Geraldo em “creações suas” canto e piano; “Jazz da P.R.A.-7”; “Quinteto Max”; programas com solos de piano e violino; “Música de Dansa” e o programa “Na Mocidade de Minha Avó”.
Esta vasta lista de grupos musicais indica a conseqüente alteração no repertório, antes feito dentro de uma concepção herdada dos imigrantes da cidade ou inspirada na cultura da “Belle Époque”. No início do século XX, os únicos meios para a disseminação musical eram as apresentações dos coretos, cassinos, confeitarias, teatros ou saraus fazendo com que a música ouvida e praticada se delimitasse a estes lugares e atendendo uma parcela mais elitizada da população de Ribeirão Preto.
Destaca-se entre os músicos, o trabalho do imigrante alemão, Max Bartsch (1888-1970), então gerente da Cia. Cervejaria Antártica, que fundou e liderou o “Quinteto Max”, um dos conjuntos atuantes na emissora com grande repercussão. O quinteto era composto por: Max Bartsch, Francisco de Biase, Ranieri Maggiori, Arthur Marsicano e Dr. Camilo Mércio Xavier. Max era agrônomo e começou seus trabalhos em Ribeirão Preto trabalhando como paisagista da prefeitura.  Pelo seu carisma, foi amigo de pessoas influentes. Passou a trabalhar como gerente da cervejaria Companhia Antarctica Niger e foi também presidente da P.R.A.7.
Página de divulgação da P.R.A.7, publicada no Jornal “A Tarde” de 13 de outubro de 1936.
 Fonte: APHMRP.
Max Bartsch, com muita fama na cidade devido também ao sucesso de seu quinteto, foi procurado por alguns músicos que se encontravam disponíveis em Ribeirão Preto em função da atração exercida pela PRA-7 e se juntou a eles, para formar a “Jazz Band Casino Antarctica” (que se apresentava no cassino de mesmo nome). Posteriormente o grupo de músicos liderados por ele fundou a Sociedade Musical de Ribeirão Preto (1938) que tinha por objetivo manter uma orquestra sinfônica, através da colaboração mensal dos sócios, assim como foi feito pelos amantes do rádio no início da P.R.A.7. Max Bartsch foi o primeiro presidente da Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto.
Muitos shows musicais e também os concertos da Orquestra Sinfônica da década de 1940, que aconteciam no palco do Theatro Pedro II, eram transmitidos ao vivo pela P.R.A.7. No Arquivo Público e Histórico Municipal de Ribeirão Preto (APHMRP) constam as solicitações dos dirigentes da rádio ao departamento de telefonia municipal, a fim de que fossem colocados os cabos telefônicos para as transmissões, com os valores cobrados pelo serviço.

Para saber mais: “PRA-7: A Primeira Rádio do Interior do Brasil” de Gil Santiago e André Luís Rezende, edição dos autores, 2005.

Gisele Laura Haddad

arquivohistorico@osrp.org.br


Artigo Publicado na Revista Movimento Vivace Ano I nº 7 Setembro de 2008