29 de julho de 2011

Orquestras Brasileiras

A palavra orquestra é usada para designar um conjunto de músicos e seus respectivos instrumentos, que executam uma peça musical geralmente erudita. Existem vários tipos de orquestras: Orquestra de Câmara, um grupo reduzido com até 30 instrumentos; Orquestra de Cordas, que utiliza violinos, violas, violoncelos contrabaixo, piano ou harpa; Orquestra Filarmônica, com grande número de instrumentos e músicos amadores; Orquestras Sinfônicas, com músicos profissionais que apresentam a forma musical chamada sinfonia; etc. Em se tratando de orquestras sinfônicas, consideramos também as que incluem o repertório de concerto, o de solistas acompanhados pelo conjunto.
As primeiras produções musicais brasileiras voltadas para orquestras estão presentes na chamada música sacra, com formações musicais reduzidas e obras vocais específicas para o propósito deste repertório. As formações incluindo cordas e metais eram raras e as atividades musicais descentralizadas, por isto, não se tratava ainda de repertório sinfônico. Duas corporações musicais derivadas das atividades sacras do século XVIII estão ainda hoje em funcionamento, localizadas na cidade de São João Del Rey: a Orquestra Lira Sanjoanense e a Orquestra Ribeiro Bastos.
Com a vinda de D. João VI para o Brasil em 1808, a prática da música sacra se sofisticou através da presença de uma orquestra com cantores virtuosos e músicos com conhecimento da teoria musical. Por volta de 1830, observa-se a mudança do gosto musical brasileiro quando a obra dos compositores de óperas, principalmente os italianos, substituía a preferência pela música sacra. Até então, era também comum a audição das aberturas, composições que serviam de introdução em qualquer evento, incluindo apresentações teatrais.
Para atender a necessidade dos eventos musicais da sociedade, surgiram no Rio de Janeiro, ainda no século XIX, as sociedades de concertos e os clubs, instituições responsáveis pela prática musical sinfônica e existência de concertos públicos. A primeira sociedade, a Sociedade Filarmônica Fluminense foi organizada em 1834 e dirigida por Francisco Manuel da Silva, autor da melodia do Hino Nacional Brasileiro. Não se sabe das condições de funcionamento das orquestras destas sociedades, mas certamente as formações eram heterogêneas e os instrumentos que faltavam para a execução do repertório era suprido pelo piano.
A partir da segunda metade do século XIX, a música de concerto, nem ópera, nem sacra, começa a ter maior importância, quando uma geração de compositores brasileiros começou a produzir e mudar o cenário musical, entre eles: Henrique Oswald, Leopoldo Miguez e Alberto Nepomuceno.
Vale lembrar que os concertos sinfônicos eram uma pequena parte das apresentações promovidas por estas sociedades, pois a produção tornava-se onerosa visto a estrutura física e musical diferenciada. A mudança deste quadro é verificada em 1908, quando o compositor Alberto Nepomuceno foi nomeado diretor e regente principal dos concertos sinfônicos da Exposição Nacional da Praia Vermelha (RJ), em comemoração ao centenário da Abertura dos Portos. Em três meses esta orquestra executou vinte e oito concertos sinfônicos com programas diferentes, apresentando ao público os contemporâneos Debussy e Rimsky-Korsakov, além de compositores brasileiros.
Verifica-se nesta fase um longo período de tentativas de formação de orquestras e o posterior estabelecimento de diversos agrupamentos musicais destinados ao trabalho nos programas de rádio.

Parte do Programa de Inauguração do Theatro Pedro II de 8 de outubro de 1930. Fonte: OSRP. Observa-se o texto 1- Overture Symphonia do "Guarany" pela Orchestra Symphonica sob a regência do festejado maestro Ignazio Stabile. 
Fonte: Arquivo Histórico OSRP.


Em Ribeirão Preto foram fundadas sociedades de concertos a partir da década de 1920, mas que não resistiam à falta de recursos e sustentação administrativa. Entre elas está a Sociedade Cultura Artística de Ribeirão Preto (1929) que mantinha a Orchestra Symphonica de Ribeirão Preto daquela época, sob a regência do maestro Ignázio Stábile. Esta mesma Orchestra participou da inauguração do Theatro Pedro II no dia 8 de outubro de 1930. Destacamos também em Ribeirão Preto a presença de alguns dos compositores daquela época que participaram do movimento da música sinfônica e da formação das sociedades sinfônicas da nossa cidade: Homero Barreto, irmão do ex-prefeito Fábio Barreto; Belmácio Pousa Godinho, pai da professora de piano D. Dinah Pousa Godinho Mihaleff e Edmundo Russomanno, avô do também compositor e atual Prof. da ECA-USP Rubens Russomanno Ricciardi.
Em 1931 é criada a Orquestra Sinfônica do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, a primeira subvencionada pelo governo, sendo a orquestra brasileira mais antiga em funcionamento ininterrupto, seguido pela Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto a segunda neste critério, fundada em 1938 pela Sociedade Musical de Ribeirão Preto. Em 1939 é criada a Orquestra do Theatro Municipal de São Paulo e em 1940 a Orquestra Sinfônica Brasileira.

Capa do Programa de Concerto promovido pela Sociedade de Cultura Artística de Ribeirão Preto, 
em novembro de 1929. Fonte: Arquivo Pessoal Luís José Baldo.
Muitos outros conjuntos são fundados posteriormente, preenchendo uma lista de mais de 40 orquestras, que podem ser consideradas as principais do país e que hoje oferecem a realização da música erudita nacional e estrangeira, com multiplicidade de instrumentos e timbres.

Fontes: Arquivo Luís José Baldo, Arquivo OSRP e texto "Música Sinfônica Brasileira" de Lutero Rodrigues. Cadernos do VIII Colóquio de Pesquisa do PPGM UNIRIO, 2003.


Manuscrito de novembro de 1949 da composição "Ave Maria" de Edmundo Russomanno, 
dedicada à sua filha Anésia. Fonte: Arquivo Histórico OSRP


Gisele Haddad

arquivohistorico@osrp.org.br

Artigo Publicado na Revista Movimento Vivace Ano I nº 5 junho de 2008