29 de julho de 2011

Uma História a Ser Contada



Vista Parcial de Ribeirão Preto. Fonte: Revista Ribeirão Preto exemplar de dezembro de 1939, Arquivo  Público e Histórico Municipal de Ribeirão Preto.
O registro da atuação e funcionamento da OSRP além de um simples "contar histórias", colabora ao resgatar o contexto cultural-histórico que permeou seu nascimento e sua consolidação e pode esclarecer a expressão da música erudita dentro da sociedade de Ribeirão Preto, cidade do interior do país, aparentemente sem precedentes deste teor.
Capa do Programa de Concerto promovido pela Sociedade  de Cultura Artística de Ribeirão Preto, em novembro de 1929, apresentando a Orchestra Symphonica de Ribeirão Preto. Fonte: Arquivo Pessoal Luiz Baldo.
Capa do Programa de Concerto oferecido pela Sociedade de Concertos Symphonicos de Ribeirão Preto no dia 3 de maio de 1923. Fonte: Arquivo Histórico OSRP.
A trajetória da OSRP mescla-se ao desenvolvimento da cultura cafeeira, a atuação de uma aristocracia e sua inserção na economia nacional e internacional, à chegada da Companhia Mogiana de Estradas de Ferro, ao início da industrialização, além de outros aspectos constantes na história de nossa cidade.
Ribeirão Preto possuía no início do século XX, condições favoráveis para a rápida assimilação das novidades que chegavam do exterior. A efervescência cultural desta época acontecia na mesma proporção em que crescia a fortuna dos coronéis do café que iam para a Europa e, com "algum atraso", traziam a "Belle Époque" para a cidade. Importavam champanhe francês, a boemia e o jogo dos cassinos, os espetáculos de ópera, a arquitetura e a culinária. O Brasil adotava um modelo urbanístico inspirado na remodelação de Paris (1880) e a cidade de Ribeirão Preto passou por este período durante a administração do prefeito Joaquim Macedo Bittencourt entre 1911 e 1920, com a instalação de rede de esgoto, iluminação elétrica, rinks de patinação, cinemas e teatros e remodelação do traçado das ruas, ocasionando também modificações nos usos e costumes. Estas alterações fizeram a cidade ficar conhecida como a "Petit Paris" paulista.
Neste período, aconteceram diversas tentativas para a criação e funcionamento de sociedades musicais sinfônicas por aqui. Através de programas de concertos desta época, percebemos que muitos dos nomes envolvidos nestas tentativas também fazem parte da formação da Orquestra de 1938. Por isso, há quem diga que a OSRP é ainda mais antiga e que apenas a Associação que a mantém, completa agora seus 70 anos.
Independente da data, o fato é que as pessoas que trabalharam para a prática da música sinfônica na cidade eram verdadeiros idealistas. Tendo como lema "A Boa Música Educa o Povo" (frase presente nos primeiros programas de concerto), a Sociedade Musical Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto pretendia: reunir todos os profissionais nesta Sociedade que seria sindical; o bem estar dos músicos; realizar pelo menos seis concertos anuais aos seus associados e ao público em geral e difundir a cultura musical em Ribeirão Preto. Seus fundadores foram pessoas de diferentes camadas sociais, identificamos, entre elas, as seguintes profissões: carteiro, fotógrafo, médico, advogado, comerciante, taxista, entre outros e alguns músicos, que se encontravam após o expediente do dia de trabalho para ensaiar. Tocavam por paixão à música.
Apresentação da Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto no Theatro Pedro II em 4 de maio de 1940.
Fonte: Arquivo HIstórico OSRP.














                  
Seria então esta Orquestra realmente Sinfônica? Não. Nossa Orquestra é Filarmônica. A diferença está não no repertório ou na quantidade de instrumentos, mas na maneira como ela se constitui juridicamente e administrativamente. A palavra "Sinfônica" indica um repertório composto por sinfonias e também serve para representar alguns grupos musicais mantidos exclusivamente pelo poder público ou de outras sociedades. O nome "Filarmônica" diz respeito às sociedades musicais mantidas por pessoas que demonstram interesse pela música: os amantes, ou amadores que acabam por subsidiar determinados conjuntos orquestrais. O nome "Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto" permanece por tradição. A diferença, então, é burocrática e não musical.
As razões que fazem a sociedade participar da prática da música sinfônica estão intimamente ligadas à representação e significância da Orquestra nesta sociedade. Pouquíssimas cidades do interior do país possuem o privilégio de uma Orquestra Sinfônica. Por isto, atentamos sobre o valor social e musical de nossa Orquestra: a atenção que ela recebe de seu público e as produções musicais por ela realizadas.
A partir destas considerações, a história começa, não com um "Era uma vez....", mas com a curiosidade que, transformada em interesse de conhecimento próprio, nos mata a sede deste saber. Assim, teremos muito a comemorar. (continua na próxima edição)

Gisele  Haddad
arquivohistorico@osrp.org.br

Artigo Publicado na Revista Movimento Vivace Ano I nº 1 março de 2008