29 de julho de 2011

Conjuntos Musicais

     Entre os antigos conjuntos musicais de Ribeirão Preto estão as bandas, militares ou de coreto, que participavam de todos os atos sociais e eram uma das poucas oportunidades que a população tinha de ouvir qualquer tipo de música instrumental. Elas se apresentavam com regularidade nas praças públicas da cidade Até o momento, poucos foram os estudos referentes às bandas e ainda há dúvidas na identificação de algumas delas.
     São dos memorialistas Prisco da Cruz Prates e Rubem Cione breves relatos a respeito das primeiras bandas musicais. Eles afirmam que a primeira, chamada Banda São Sebastião, foi organizada por Pedro Xavier de Paula em 1887 e que a segunda foi fundada em 1894 por José Munhai, com imigrantes italianos. Podemos também citar uma das mais antigas bandas de Ribeirão Preto, a Banda Filhos de Euterpe dirigida pelo músico e compositor José Delfino Machado. Nas obras destes autores encontramos também referências a teatros cinemas, cassinos e confeitarias, que possuíam seus próprios grupos musicais, sendo locais para o entretenimento da população.
     Em 1910 existiam quatro bandas e a prefeitura as contratava para tocar nos coretos de praças. O Hino Nacional Brasileiro e a Marsellhesa (Hino Nacional da França) eram sempre executados e o repertório tratava de peças tradicionais e do folclore estrangeiro além de composições eruditas de apelo popular.
Orquestra Jazz Tupan com o cantor Orlando Silva 
no palco do Cine Teatro São Jorge em apresentação irradiada pela PRA-7. 
Fonte: Arquivo Pessoal Luíz Baldo.
Integrantes da Jazz Band Record de Ribeirão Preto. 
Fonte: Arquivo Pessoal Aloísio da Cruz Prates.
     Entre documentos mais antigos sobre as bandas que tocavam em praças públicas, encontra-se no Arquivo Público Histórico Municipal de Ribeirão Preto (APHMRP) o contrato firmado pela prefeitura com a Banda Giácomo Puccini em 1933. Era dirigida pelo maestro Ignazio Stábile e fazia retretas semanais na Praça 7 de Setembro, na Praça XV de Novembro e na Praça Sagrado Coração da Vila Tibério. A Banda, que deveria contar com no mínimo 20 músicos, comunicava um dia antes para a prefeitura o repertório a ser executado.     Caso houvesse alteração, a prefeitura deveria ser previamente comunicada para que se verificasse sua razão.    A Banda Giácomo Puccini mantinha com recursos próprios uma escola de música para 23 crianças carentes, participou das retretas promovidas pela prefeitura até 1937. A partir deste ano, passou a se apresentar outra banda contratada, a Banda Independente. O repertório a ser executado era sempre divulgado no jornal “A Cidade”.
     Juntamente com as bandas são observados outros conjuntos musicais de Ribeirão Preto, as Jazz Bands. Na época, qualquer conjunto de bateria e instrumentos de sopro (basicamente vindos das bandas) era chamado de Jazz Band e o seu repertório de sambas, choros e maxixes e alguns tipos de Jazz, era tocado de acordo com o lugar em que se estabeleciam para trabalhar, no caso de Ribeirão Preto, casas noturnas e cassinos.
     O Jazz é um estilo musical que surgiu no final do século XIX como uma manisfestação artístico-musical da cultura popular e das comunidades negras americanas. O estilo incorporava a polirritmia e a improvisação utilizando instrumentos originalmente usados em bandas marciais: metais, palhetas e baterias. No Brasil, as Jazz Bands aparecem como cópias do formato americano para repertórios populares no período da primeira guerra mundial.
Jazz Band Bico Doce. Abaixo da foto, inscrito no álbum consta a indicação dos nomes dos músicos: 
Gildo (Hermenegildo Beretta), Maneco (Manoel da Silva), Eudóxio, Amadeu, João, Carneiro, Brandão e Theodoro. Década de 1910. Fonte: Arquivo Pessoal Manoel da Silva.
Integrantes da Cadioli e sua Orquestra. Fonte: Arquivo Pessoal Luíz Baldo.
     Em Ribeirão Preto foram localizados documentos e fotografias inéditas, nos arquivos particulares do violoncelista e taxista Manoel da Silva (1896-1963), do violinista Luís Baldo (1909) e do conhecido músico militar e ex-músico da OSRP, Sr. Aloísio da Cruz Prates (1920) (também filho do primeiro memorialista citado), sendo que as imagens descrevem as características visuais dos conjuntos musicais e ainda não foi possível identificar todos os integrantes ou saber exatamente que tipo de repertório era utilizado.
Integrantes da Jazz Band Imperial de Ribeirão Preto. 
Fonte: Arquivo Pessoal Luíz Baldo.
     Um antigo álbum confeccionado pelo próprio Manoel da Silva traz fotografias da Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto, dos conjuntos musicais que se apresentavam na emissora de rádio local (PRA-7) e de algumas Jazz Bands que tocavam nas casas noturnas da cidade e muitos dos músicos e algumas datas ainda não foram identificados. Os outros dois arquivos não estão organizados em álbuns, mas contém documentos, recortes de jornais e fotos.
Integrantes da Jazz Band Beretta (de Hermenegildo Beretta). 
Fonte: Arquivo Pessoal Manoel da Silva.
     Para colaborar com esta pesquisa contamos com a participação dos relatos das pessoas que mantém documentos ou fotos em suas residências.

Gisele Haddad

arquivohistorico@osrp.org.br

Artigo Publicado na Revista Movimento Vivace Ano I nº 9 novembro de 2008

François Cassoulet e os Entretenimentos Sociais em Ribeirão Preto

Imagem de François Cassoulet. 
Fonte: livro “História de Ribeirão Preto” vol.1 de Rubem Cione.
Para uma apresentação artística ou mesmo nos eventos sociais é indispensável o trabalho de produção, a organização e acompanhamento de um centralizador que perceba onde e qual a necessidade de entretenimento de determinado grupo social. Estudando cidade de Ribeirão Preto no início do século XX, encontramos um ambiente propício para grandes eventos e seu principal dirigente: François Cassoulet. 
O grande poder aquisitivo dos coronéis do café fez com que Ribeirão Preto se desenvolvesse a ponto de ser comparada a grandes metrópoles da época, principalmente Paris, cidade que serviu como modelo de modernidade, suntuosidade e beleza. Imitando sua arquitetura e hábitos sociais, surgiram vários teatros e sociedades que promoviam os eventos e entretenimentos sociais, como exemplo: Teatro Eldorado, Teatro High-Life, Bijou Theatre, Paris Theatre, Sociedade Recreativa de Esportes, Sociedade Dante Alighieri, Sociedade Legião Brasileira de Assistência, União Geral dos Trabalhadores, Salão Auxiliadora e Sociedade de Socorros Mútuos.
Um dos vários estudos acadêmicos sobre a atuação de François Cassoulet é o de Benedita Luiza da Silva (2000): O Rei da Noite no Eldorado Paulista: François Cassoulet e os entretenimentos noturnos em Ribeirão Preto (1880-1930), que aborda a questão do processo de desenvolvimento da empresa de entretenimentos de Ribeirão Preto comparada a outros municípios do interior do estado de São Paulo como Campinas, Franca e Batatais. Segundo a autora, estas cidades com as mesmas condições materiais, como a existência de ricos produtores de café e da ferrovia Mogiana, não tiveram um desenvolvimento crescente comparável ao de Ribeirão Preto.
A autora divide as transformações nas formas de lazer que ocorreram na região relacionadas a quatro movimentos que podem ser assim exemplificados: de um lazer rural-familiar para um urbano, enfatizando o deslocamento populacional das fazendas para a cidade; de um lazer urbano privado para as formas públicas ou populares de diversão, através da existência dos clubes, praças com coretos, confeitarias, entre outros; de um entretenimento diurno para atividades noturnas como apresentações em teatros ou jogos em cassinos; e de um lazer popular para formas aprimoradas e mercantilizadas, utilizando de elementos culturais europeus como música, vestuário, arquitetura e culinária, em detrimento ao que era de costume local.
Esta pesquisa considera ainda que este processo na mudança cultural e hábitos de entretenimento aconteceram lentamente e foi marcado pelo que chama de “urbanização da vida social” com as seguintes características: a imigração européia, a migração campo-cidade, o surgimento de uma burguesia, também rural-urbana e de um segmento de trabalhadores livres, a influência cultural européia e o desenvolvimento estrutural da cidade quanto ao calçamento de ruas, segurança e iluminação pública.
François Cassoulet foi o promotor das diversões de Ribeirão Preto que mais se destacou, viveu e trabalhou na cidade entre os anos de 1894 e 1917. Grande empreendedor inaugurou um dos primeiros cafés cantantes do Brasil, o Eldorado e posteriormente algumas casas teatrais e de diversões para os endinheirados. Estes locais atraíam também freqüentadores de toda a região e mesmo de algumas capitais. Entre os estabelecimentos que foram administrados por ele está o Cassino Antarctica, inaugurado pela cervejaria de mesmo nome e considerado um local com ambiente familiar, tendo como principal atividade os jogos. Localizava-se na Rua Américo Brasiliense próximo à Rua Amador Bueno, bem em frente a sua residência.
Com enorme atenção à produção dos eventos apresentados nos estabelecimentos que eram de sua propriedade, Cassoulet trazia para eles artistas de renome e prostitutas, apresentava performances artísticas e oferecia mesas de jogos, mas também organizava os festejos de carnaval das ruas e dos clubes para a população em geral.


Foto da Jazz Orchestra Paulicéa que, segundo depoimentos, atuava na confeitaria Paulicéa localizada na rua General Osório próximo à rua Álvares Cabral.
Fonte: Arquivo Manoel da Silva.

Apesar de seu envolvimento com atividades de meretrício, foi tolerado na cidade pelo refinamento de suas produções, que incluíam apresentações das Companhias de Óperas Italianas, sendo que muitas delas estreavam primeiramente em Ribeirão Preto, no Teatro Carlos Gomes para depois seguir em turnê por todo o país. No Eldorado oferecia apresentações para o público masculino em todas as noites e como gerente do Teatro Carlos Gomes promovia reuniões, conferências entre outras atividades, incluindo curiosamente a apresentação de filmes em cinematógrafo.

P.R.A.7

O rádio como meio de comunicação chegou ao Brasil em 1922 e já existia na Europa e Estados Unidos. Assim como os estudantes de telegrafia e radiotelegrafia das cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, que na década de 1920 decidiram aprofundar seus conhecimentos sobre a radiodifusão, um grupo de cidadãos de Ribeirão Preto se uniu a intelectuais, comerciantes e profissionais liberais e fundaram a “Rádio Club”, uma forma de rádio, semelhante aos clubes onde sócios pagam mensalidades. Até então, os únicos meios de comunicação locais eram as revistas e os jornais.
Mesmo com dificuldades e problemas técnicos, foi fundada em 1924 a P.R.A.7 (sigla de prefixo radiofônico nº 7), a primeira emissora de rádio da cidade de Ribeirão Preto que provocou transformações significativas nos costumes e audição de repertórios musicais da sociedade local. Sendo a primeira emissora de rádio do interior de São Paulo, sua existência só foi possível, entre outros fatores, em função do alto desenvolvimento político e social que a cidade conseguiu através de sua economia cafeeira.
Rezende e Santiago, autores do livro “P.R.A.7: A Primeira Rádio do Interior do Brasil” identificam a P.R.A.7 como a sétima emissora do país, atrás apenas das rádios Clube de Pernambuco, Sociedade do Rio de Janeiro, Sociedade Educadora Paulista, Sociedade da Bahia, Club Paranaense e Clube do Brasil (RJ) – todas de capitais de estado.
Conforme seu primeiro estatuto, a rádio visava atuar exclusivamente para fins educacionais, científicos, técnicos e artísticos, com completa abstenção de recursos políticos, industriais e comerciais. Em 1934, passou a cobrir uma área com raio de 300 km e ficou conhecida como “A Estação do Coração de São Paulo”. 


Página de propaganda da P.R.A.7, publicada na “Revista de Ribeirão Preto” em dezembro de 1939.
Fonte: APHMRP.


 A música passou a ser amplamente propagada através da rádio, ultrapassando as fronteiras geográficas locais, quando os programas radiofônicos foram alcançados também em outras cidades. O repertório que apresentava peças tradicionais e do folclore estrangeiro como as composições eruditas de apelo popular, começou a ser modificado pela presença de composições locais, regionais e nacionais primeiramente divulgadas pela emissora com ampla repercussão na cultura local, passando a atingir todos os níveis sociais da população.
A programação ficava por conta das variadas orquestras que participavam com músicas eruditas, jazz, marchinhas e composições próprias e se alternavam com os noticiários sobre a cidade, o país e do mundo. Como era fácil conseguir trabalho, muitos artistas e músicos foram atraídos pela rádio na época de sua fundação.
No folheto de propaganda da rádio direcionado para eventuais anunciantes, localizado no Arquivo Público Municipal de Ribeirão Preto, consta que a rádio contava com a “Orquestra de Concertos”, a “Orquestra de Cordas”, a “Orquestra Russa”, o “Conjunto Regional”, o “Conjunto da Madrugada”, solistas diversos e também um “cast” de 10 cantores. Rezende e Santiago também citam que: “de 1935 a 1940, passaram pelos microfones da PRA-7 os principais cantores e conjuntos musicais do país, entre os quais, Chiquinha Rodrigues, Orlando Silva, Carmen Miranda, Aurora Miranda, Carlos Galhardo, Silvio Caldas, Dircinha e Linda Batista”.
O Jornal “A Cidade” em janeiro de 1934, publicou a programação da rádio para os seus leitores. Consta nele, além dos horários de patrocinadores, que a rádio oferecia os seguintes programas: “Orchestra de Salão da P.R.A-7”; “Orchestra Typica da P.R.A.-7”; “Inecchi”, por Xisto e Geraldo em “creações suas” canto e piano; “Jazz da P.R.A.-7”; “Quinteto Max”; programas com solos de piano e violino; “Música de Dansa” e o programa “Na Mocidade de Minha Avó”.
Esta vasta lista de grupos musicais indica a conseqüente alteração no repertório, antes feito dentro de uma concepção herdada dos imigrantes da cidade ou inspirada na cultura da “Belle Époque”. No início do século XX, os únicos meios para a disseminação musical eram as apresentações dos coretos, cassinos, confeitarias, teatros ou saraus fazendo com que a música ouvida e praticada se delimitasse a estes lugares e atendendo uma parcela mais elitizada da população de Ribeirão Preto.
Destaca-se entre os músicos, o trabalho do imigrante alemão, Max Bartsch (1888-1970), então gerente da Cia. Cervejaria Antártica, que fundou e liderou o “Quinteto Max”, um dos conjuntos atuantes na emissora com grande repercussão. O quinteto era composto por: Max Bartsch, Francisco de Biase, Ranieri Maggiori, Arthur Marsicano e Dr. Camilo Mércio Xavier. Max era agrônomo e começou seus trabalhos em Ribeirão Preto trabalhando como paisagista da prefeitura.  Pelo seu carisma, foi amigo de pessoas influentes. Passou a trabalhar como gerente da cervejaria Companhia Antarctica Niger e foi também presidente da P.R.A.7.
Página de divulgação da P.R.A.7, publicada no Jornal “A Tarde” de 13 de outubro de 1936.
 Fonte: APHMRP.
Max Bartsch, com muita fama na cidade devido também ao sucesso de seu quinteto, foi procurado por alguns músicos que se encontravam disponíveis em Ribeirão Preto em função da atração exercida pela PRA-7 e se juntou a eles, para formar a “Jazz Band Casino Antarctica” (que se apresentava no cassino de mesmo nome). Posteriormente o grupo de músicos liderados por ele fundou a Sociedade Musical de Ribeirão Preto (1938) que tinha por objetivo manter uma orquestra sinfônica, através da colaboração mensal dos sócios, assim como foi feito pelos amantes do rádio no início da P.R.A.7. Max Bartsch foi o primeiro presidente da Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto.
Muitos shows musicais e também os concertos da Orquestra Sinfônica da década de 1940, que aconteciam no palco do Theatro Pedro II, eram transmitidos ao vivo pela P.R.A.7. No Arquivo Público e Histórico Municipal de Ribeirão Preto (APHMRP) constam as solicitações dos dirigentes da rádio ao departamento de telefonia municipal, a fim de que fossem colocados os cabos telefônicos para as transmissões, com os valores cobrados pelo serviço.

Para saber mais: “PRA-7: A Primeira Rádio do Interior do Brasil” de Gil Santiago e André Luís Rezende, edição dos autores, 2005.

Gisele Laura Haddad

arquivohistorico@osrp.org.br


Artigo Publicado na Revista Movimento Vivace Ano I nº 7 Setembro de 2008

Recital de Piano

                                            
Antônio Giammarusti com suas alunas em audição de piano na década de 1920. Foto extraída do livro “Ruas e Caminhos: um passeio pela História de Ribeirão Preto” do APHMRP.


Entre os muitos maestros que residiam na cidade de Ribeirão Preto no ano de 1938, Antônio Giammarusti foi o sorteado para reger a primeira apresentação da Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto (OSRP), realizada no dia 22 de setembro no Teatro Pedro II.
Giammarusti nasceu em Bari, na Itália, no dia 21 de maio de 1895 e concluiu seus estudos de música sendo diplomado pelo Real Conservatório de Nápoles. Também na Itália trabalhou com o ensino musical e regência. Veio para o Brasil em 1924 e atuou em vários teatros de São Paulo, realizando também alguns concertos e “tournées” pelo estado. Passou a residir em Ribeirão Preto em 1930. Em 1931, fundou o Conservatório de Ribeirão Preto, cujos alunos deram várias audições de piano entre as quais se destacou uma em comemoração dos festejos de Carlos Gomes, no dia 13 de agosto de 1936, sendo apresentadas músicas com 7 pianos e 14 executantes. Foi também compositor e entre suas obras, destacam-se: “Cançoneta Nostálgica”, “Minueto em Lá Maior” e “Suíte Brasileira”.
Na noite de 17 de julho de 1939, com o objetivo de levantar fundos para a compra de instrumentos para a Sociedade Musical de Ribeirão Preto (mantenedora da OSRP), Giammarusti conseguiu realizar no Theatro Pedro II um recital pianís-tico com suas alunas. Produziu esta apresentação com 12 pianos no palco, emprestados pelas famílias da cidade, um recital com apresentações de piano solo e de conjuntos com 12 e 21 executantes, todos tocados por suas alunas. No repertório, constavam a “Fantasia sobre o Hino Nacional Brasileiro” de Gottschalk, “Moto Perpétuo” de Weber, “Polonaise em La bemol” de Chopin e na última parte a “2ª Rapsódia” de Liszt e trechos da Ópera “O Guarany” de Carlos Gomes. Por esta realização foi muito elogiado pela imprensa da época, sendo citado como idealista e pessoa admirável por seu feito.
O recital das alunas do Prof. Giammarusti é, então, considerado como a primeira campanha para aquisição de instrumentos da história da OSRP.
Capa do Programa do Recital Pianístico das alunas do Prof. Antônio Giammarusti, realizado dia 17 de julho de 1939. Fonte: Arquivo Histórico OSRP

Agradecimento
A Sociedade Musical de Ribeirão Preto, sensibilizada, vem por meio deste, externar a sua mais profunda gratidão ao competente Maestro Sr. Antonio Giammarusti pela patriótica iniciativa que teve, realizando um explendido, um formidável concerto com 12 pianos em benefício desta Sociedade. Ao mesmo tempo agradece à fina flor da sociedade riberopretana, às exmas. pianistas e alumnas do maestro Antonio Giammarusti que deram prova pública do progresso da arte em Ribeirão Preto e ao mesmo tempo forma infatigáveis no seu auxilio à Sociedade Musical(...)  Diário da Manhã 26 de julho de 1939.

Fontes:
Jornal “A Cidade”
de 13 de dezembro de 1939, Jornal “O Diário da Manhã”
de 18 e 26 de julho de 1939
e arquivo da OSRP.


Gisele Laura Haddad

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Artigo Publicado na Revista Movimento Vivace Ano I nº 6 agosto de 2008

Orquestras Brasileiras

A palavra orquestra é usada para designar um conjunto de músicos e seus respectivos instrumentos, que executam uma peça musical geralmente erudita. Existem vários tipos de orquestras: Orquestra de Câmara, um grupo reduzido com até 30 instrumentos; Orquestra de Cordas, que utiliza violinos, violas, violoncelos contrabaixo, piano ou harpa; Orquestra Filarmônica, com grande número de instrumentos e músicos amadores; Orquestras Sinfônicas, com músicos profissionais que apresentam a forma musical chamada sinfonia; etc. Em se tratando de orquestras sinfônicas, consideramos também as que incluem o repertório de concerto, o de solistas acompanhados pelo conjunto.
As primeiras produções musicais brasileiras voltadas para orquestras estão presentes na chamada música sacra, com formações musicais reduzidas e obras vocais específicas para o propósito deste repertório. As formações incluindo cordas e metais eram raras e as atividades musicais descentralizadas, por isto, não se tratava ainda de repertório sinfônico. Duas corporações musicais derivadas das atividades sacras do século XVIII estão ainda hoje em funcionamento, localizadas na cidade de São João Del Rey: a Orquestra Lira Sanjoanense e a Orquestra Ribeiro Bastos.
Com a vinda de D. João VI para o Brasil em 1808, a prática da música sacra se sofisticou através da presença de uma orquestra com cantores virtuosos e músicos com conhecimento da teoria musical. Por volta de 1830, observa-se a mudança do gosto musical brasileiro quando a obra dos compositores de óperas, principalmente os italianos, substituía a preferência pela música sacra. Até então, era também comum a audição das aberturas, composições que serviam de introdução em qualquer evento, incluindo apresentações teatrais.
Para atender a necessidade dos eventos musicais da sociedade, surgiram no Rio de Janeiro, ainda no século XIX, as sociedades de concertos e os clubs, instituições responsáveis pela prática musical sinfônica e existência de concertos públicos. A primeira sociedade, a Sociedade Filarmônica Fluminense foi organizada em 1834 e dirigida por Francisco Manuel da Silva, autor da melodia do Hino Nacional Brasileiro. Não se sabe das condições de funcionamento das orquestras destas sociedades, mas certamente as formações eram heterogêneas e os instrumentos que faltavam para a execução do repertório era suprido pelo piano.
A partir da segunda metade do século XIX, a música de concerto, nem ópera, nem sacra, começa a ter maior importância, quando uma geração de compositores brasileiros começou a produzir e mudar o cenário musical, entre eles: Henrique Oswald, Leopoldo Miguez e Alberto Nepomuceno.
Vale lembrar que os concertos sinfônicos eram uma pequena parte das apresentações promovidas por estas sociedades, pois a produção tornava-se onerosa visto a estrutura física e musical diferenciada. A mudança deste quadro é verificada em 1908, quando o compositor Alberto Nepomuceno foi nomeado diretor e regente principal dos concertos sinfônicos da Exposição Nacional da Praia Vermelha (RJ), em comemoração ao centenário da Abertura dos Portos. Em três meses esta orquestra executou vinte e oito concertos sinfônicos com programas diferentes, apresentando ao público os contemporâneos Debussy e Rimsky-Korsakov, além de compositores brasileiros.
Verifica-se nesta fase um longo período de tentativas de formação de orquestras e o posterior estabelecimento de diversos agrupamentos musicais destinados ao trabalho nos programas de rádio.

Parte do Programa de Inauguração do Theatro Pedro II de 8 de outubro de 1930. Fonte: OSRP. Observa-se o texto 1- Overture Symphonia do "Guarany" pela Orchestra Symphonica sob a regência do festejado maestro Ignazio Stabile. 
Fonte: Arquivo Histórico OSRP.


Em Ribeirão Preto foram fundadas sociedades de concertos a partir da década de 1920, mas que não resistiam à falta de recursos e sustentação administrativa. Entre elas está a Sociedade Cultura Artística de Ribeirão Preto (1929) que mantinha a Orchestra Symphonica de Ribeirão Preto daquela época, sob a regência do maestro Ignázio Stábile. Esta mesma Orchestra participou da inauguração do Theatro Pedro II no dia 8 de outubro de 1930. Destacamos também em Ribeirão Preto a presença de alguns dos compositores daquela época que participaram do movimento da música sinfônica e da formação das sociedades sinfônicas da nossa cidade: Homero Barreto, irmão do ex-prefeito Fábio Barreto; Belmácio Pousa Godinho, pai da professora de piano D. Dinah Pousa Godinho Mihaleff e Edmundo Russomanno, avô do também compositor e atual Prof. da ECA-USP Rubens Russomanno Ricciardi.
Em 1931 é criada a Orquestra Sinfônica do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, a primeira subvencionada pelo governo, sendo a orquestra brasileira mais antiga em funcionamento ininterrupto, seguido pela Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto a segunda neste critério, fundada em 1938 pela Sociedade Musical de Ribeirão Preto. Em 1939 é criada a Orquestra do Theatro Municipal de São Paulo e em 1940 a Orquestra Sinfônica Brasileira.

Capa do Programa de Concerto promovido pela Sociedade de Cultura Artística de Ribeirão Preto, 
em novembro de 1929. Fonte: Arquivo Pessoal Luís José Baldo.
Muitos outros conjuntos são fundados posteriormente, preenchendo uma lista de mais de 40 orquestras, que podem ser consideradas as principais do país e que hoje oferecem a realização da música erudita nacional e estrangeira, com multiplicidade de instrumentos e timbres.

Fontes: Arquivo Luís José Baldo, Arquivo OSRP e texto "Música Sinfônica Brasileira" de Lutero Rodrigues. Cadernos do VIII Colóquio de Pesquisa do PPGM UNIRIO, 2003.


Manuscrito de novembro de 1949 da composição "Ave Maria" de Edmundo Russomanno, 
dedicada à sua filha Anésia. Fonte: Arquivo Histórico OSRP


Gisele Haddad

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Artigo Publicado na Revista Movimento Vivace Ano I nº 5 junho de 2008

O Maestro Italiano

A figura do maestro nos grupos musicais pode ser vista pelos mais inocentes como desnecessária. Maestro ou regente, para estes, é aquele que agita os braços sem parar diante do grupo musical. Peça fundamental de grandes conjuntos como orquestras e bandas, é o Maestro quem “toca” a orquestra e centraliza a atividade dos músicos, servindo-lhes de referência principalmente durante a execução das obras musicais.
Muitos foram os Maestros que atuaram na Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto durante os últimos 70 anos. Entre eles, destacamos o primeiro Maestro Titular desta Orquestra: Ignázio Stábile. As informações sobre ele foram obtidas através de fotos, jornais e programas de concertos, entre outros documentos constantes no arquivo da OSRP e do Arquivo Público e Histórico de Ribeirão Preto (APHRP).
Maestro Ignázio Stábile.
Fonte: Arquivo Histórico OSRP
Natural da Itália, tendo nascido em Roma, no dia 1º de fevereiro de 1889, Ignázio Stábile, já muito cedo, dedicou-se à arte musical, tendo realizado o seu curso no conservatório de Nápoles. Sob a sua batuta estiveram diversas bandas e orquestras da Europa e do Oriente, onde deixou bem assinalada a sua grande marca de regente e compositor. Em 1914, foi combatente da primeira Guerra Mundial, defendendo a Itália.
Veio para o Brasil ainda moço, através da turnê da “Grande Companhia Italiana de Operetas Clara Weiss”. Fixou-se na cidade de São Paulo, onde conduziu diversas bandas e orquestras. Em meados de 1930, transferiu-se para Ribeirão Preto para trabalhar na Banda Municipal Giácomo Puccini, que se apresentava nas praças da cidade. Com o dinheiro destinado à manutenção desta banda, mantinha também uma escola de música para os pobres que funcionava no Teatro Carlos Gomes.
Em 1930, participou como regente do concerto de inauguração do Theatro Pedro II e em 13 de agosto de 1936, das comemorações musicais do centenário de nascimento do compositor Carlos Gomes.
A partir de 1938, regia a OSRP concerto sim, concerto não. Nesta época, até 1940, dividia sua regência com o Maestro Antônio Giamarustti. Convidado pela diretoria da OSRP, foi nomeado Maestro Titular, voltando a reger a Sinfônica definitivamente a partir do 13º concerto, em 27 de setembro de 1940. Nesta época, regeu também a Banda Lyra Guarany, em Jardinópolis.
Um dos documentos localizados mostra o Maestro Ignázio Stábile como um homem humilde, que chegava bem mais cedo no Theatro Pedro II para o ensaio da Orquestra, limpava todas as cadeiras, arrumava as estantes e partituras. Quando um músico faltava a dois ensaios consecutivos, ele ia pessoalmente à residência do músico saber o motivo.
Programa da Companhia de Operetas “Clara Weiss” de 1923.
 Fonte: Arquivo Histórico OSRP
Foi querido por todos, mas principalmente por duas pessoas as quais ele chamava de “seus protetores”: Dr. Jardulli, que cedeu ao Maestro Stábile uma de suas residências, sem ônus, desde a sua chegada a Ribeirão Preto e depois de sua morte, sua esposa continuou a morar nesta casa. Dr. Jardulli comentava: “mesmo que eu venha a morrer já deixei em testamento que meus filhos não podem tirar o Maestro Stábile e sua esposa de minha casa enquanto forem vivos”; e o Dr. Pessoa, que por ocasião de sua doença, arranjou-lhe internação e cuidados.
Possuía vários alunos, pois era excelente professor de harmonia e as aulas eram ministradas em sua própria residência.
Programa de Concerto da
Sociedade de Concertos Sinfônicos de São Paulo de 1923.
Fonte: Arquivo Histórico OSRP

Regeu a OSRP em São Paulo, pela inauguração do “Estádio do Pacaembu” onde na oportunidade foi homenageado o então presidente da República Getúlio Vargas, que assistiu sua apresentação com a Orquestra.
Dentre suas inúmeras composições, destacam-se a opereta Riquette, que obteve ruidosos sucessos tanto na Itália, quanto nos demais lugares onde foi executada, além de Sertão (Panorama Folkloristico), Canção Mouresca, Mattinata Interrompida, Frivolité (em parceria com Manfredine) e Conto de Fada (Pequeno Intermezzo).
Ignázio Stábile dedicou toda a sua existência à música, que foi a razão fundamental de sua obra principal. Foi regente da Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto do ano de 1938 até seu falecimento, em 4 de março de 1955.
Maria Lúcia, filha de Luís Baldo (primeiro spalla da OSRP), conta em entrevista que o velório de Ignázio Stábile foi realizado na Catedral Metropolitana de Ribeirão Preto, de onde saiu o cortejo até o Cemitério da Saudade, ao som da Marcha Fúnebre, executada pelo naipe de metais da Orquestra.


Gisele Haddad

arquivohistorico@osrp.org.br

Artigo Publicado na Revista Movimento Vivace Ano I nº 4 junho de 2008

Nascimento e Consolidação da OSRP

A o que parece, Ribeirão Preto tende para o caminho do idealismo (...) Agora, acaba de se fundar a Sociedade Symphonica de Ribeirão Preto. Auspiciosa notícia, não há dúvida!
Teve a iniciativa dessa nova conquista para a cidade o sr. Max Bartsch, o grande gerente da Antarctica entre nós, apaixonado da boa música, espírito sempre voltado para as conquistas que visem enriquecimento espiritual do indivíduo. A Sociedade Symphonica já tem sua directoria e vae entrar em franca actividade de organização technica, arregimentação de sócios, etc., e em breve se revelará ao público desta cidade. (Jornal
“A Tarde” - 23 de maio de 1938)

Capa do programa do 1º concerto da OSRP realizado em
22 de setembro de 1938, no
Theatro Pedro II. Fonte: Arquivo Histórico OSRP



A Sociedade Musical de Ribeirão Preto, mantenedora da Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto (OSRP), foi fundada em 23 de maio de 1938 com a finalidade de organizar uma nova orquestra e divulgar a música sinfônica na cidade. Na primeira página do estatuto de funcionamento desta sociedade consta que ela “nasceu de um punhado de homens idealistas, para afirmar de público que um monumento seria erigido nesta cidade, em homenagem à música. E esse movimento sintetizaria o símbolo da harmonia reinante no seio da classe musicista que, sem viver em dispersão, trabalharia em benefício da Arte Musical, difundindo pela sua orquestra sinfônica a boa música, no sentido do aprimoramento cultural do povo”.
O empenho de Max Bartsch, primeiro presidente da OSRP, fazia efeito junto aos músicos e à sociedade local. Era dele a frase “A Boa Música Educa o Povo” impressa nos primeiros programas de concerto. Todos juntos, presidência, diretoria e músicos, trabalhavam na prestação de serviços voluntários para o bom funcionamento da OSRP objetivando os resultados musicais.
A OSRP ficou logo conhecida, pois era a única no gênero em todo o interior do estado de São Paulo. Contava com alguns maestros, que se alternavam nos 12 primeiros concertos e com músicos amadores. Ignázio Stábile foi o primeiro maestro titular, assumiu a regência em 1941, trabalhou como copista e orques-trador, adaptava as peças musicais para a formação disponível, também era compositor e preparava os músicos para os concertos. Grande incentivador, trabalhou pela Orquestra até seu falecimento em 1955. Ganhava com aulas particulares já que ser músico era seu único ofício.


Capa do programa de concerto realizado em 28 de abril de 1988, no Teatro Municipal
de Ribeirão Preto, em comemoração aos 50 anos
da OSRP. Fonte:  Arquivo Histórico OSRP

Sempre houve por parte da diretoria a preocupação com a qualidade sonora das apresentações. Desde o início e durante mais de 20 anos, diversos corais da cidade participaram enriquecendo o repertório dos concertos, sendo que na década de 1950, a Orquestra mantinha seu próprio corpo coral, mas que teve curta existência, apresentando-se apenas por 3 vezes. A Orquestra incluiu também a participação de importantes solistas nacionais e internacionais e maestros convidados. Seu repertório contemplou as obras dos grandes compositores europeus e brasileiros, com certa predileção pela obra de Carlos Gomes, mas também com espaço para compositores que moravam na cidade: Homero Barreto, Edmundo Russomanno, Belmácio Pousa Godinho, Ignázio Stábile, entre outros.
Até o final desta mesma década (1950), a Orquestra somava mais de 100 concertos, o que pode ser considerado muito para a época e as circunstâncias. Com poucos recursos financeiros oriundos dos sócios e da posterior subvenção da prefeitura, sua existência foi considerada “um milagre” pela imprensa já em seu primeiro ano de vida, resistindo com o passar dos anos a crises financeiras, administrativas, deficiência de instrumentos, falta de músicos, de sede própria e descrenças, entre outras dificuldades. O reflexo desta realidade pode ser percebido no número de concertos, uma média de 40 a cada 10 anos, quadro que se alterou somente na década 1980, quando o número passa para 73 concertos.
Mesmo com tantas dificuldades, a Orquestra nunca parou suas atividades. Registrou uma preocupação constante com sua qualidade musical, mantendo enquanto pôde o seu Conjunto Coral (1954), a Escola de Instrumentistas (1977), a Camerata de Fesch (1980) e a Orquestra Jovem (1985). Considera a sua responsabilidade social e continua na missão de divulgar a música erudita.

Imagem do 2º concerto da OSRP realizado no Theatro Pedro II.
Fonte: Arquivo Histórico OSRP

Saudamos Ribeirão Preto por possuir o privilégio de uma Orquestra Sinfônica, hoje profissional. Comemoramos e lembramos o trabalho árduo e o idealismo de todos os seus músicos, fundadores e administradores, desde o presidente Max Bartsch, as diretorias e os seus sucessores, os patrocinadores, sócios e público que fizeram e fazem da OSRP, história e tradição, a expressão musical de nossa cidade.


Gisele Laura Haddad

arquivohistorico@osrp.org.br

Artigo Publicado na Revista Movimento Vivace Ano I nº 3 maio de 2008

Práticas Musicais em Ribeirão Preto

No início do século XX, Ribeirão Preto era considerado grande centro urbano com um comércio completo, que supria a vida social com todas as exigências do viver moderno. A fortuna dos coronéis do café proporcionou a propagação do progresso em termos de infra-estrutura e hábitos sociais, inspirados na cultura de “Belle Époque”. Surgiram, neste contexto, vários locais para os eventos sociais: o Teatro Carlos Gomes, o Teatro Eldorado; o Teatro High-Life; o Bijou Theatre; o Paris Theatre; a Sociedade Recreativa de Esportes; a Sociedade Dante Alighieri, a Sociedade Legião Brasileira de Assistência, entre outros.  
O principal promotor dos entretenimentos noturnos em Ribeirão Preto e gerente das diversões noturnas dos teatros e cassinos na cidade foi o empresário francês François Cassoulet, que viveu e trabalhou por aqui entre os anos de 1894 e 1917, inaugurou inicialmente um “Café Concerto” e em seguida casas teatrais.
A presença deste conjunto de estabelecimentos originou mudanças nos hábitos de entretenimento da população, que até então usufruía da Praça XV de Novembro para os passeios e a apresentação das retretas das bandas musicais (característica típica da influência dos imigrantes italianos) e das apresentações produzidas por sociedades sinfônicas ou conjuntos musicais de bares e saraus. O repertório trazia hinos, música erudita e popular, marchas e dobrados (marcha militar de andamento rápido), chansons francesas, canções napolitanas e tangos argentinos.
Qualquer formação musical desta época era tratada por “orquestra”, independente dos instrumentos ou do número de integrantes e mesmo com as grandes produções operísticas apresentadas no Teatro Carlos Gomes, havia a necessidade da prática da música sinfônica dentro do momento cultural em que se vivia. As sociedades sinfônicas surgiram para esta conveniência, promoveram e fortaleceram o repertório erudito, mas com formações amadoras, onde partituras eram adaptadas para o conjunto existente e o piano supria os instrumentos que faltavam. Muitas sociedades sinfônicas foram formadas, mas em seguida se desfaziam por falta de recursos ou de sustentação administrativa.
A inauguração da emissora de rádio na década de 1920 (antiga PRA-7) ampliou ainda mais o campo de atuação dos músicos, que formavam seus conjuntos para participar da programação da emissora. Com isso, novos artistas eram atraídos para a cidade e a população passou a conhecer além do repertório local, composições regionais.
Um dos conjuntos musicais desta rádio era o “Quinteto Max”, que levava o nome do alemão Max Bartsch, músico e agrônomo que atuou com seu trabalho em Ribeirão Preto em diversas atividades como: jardineiro da prefeitura, presidente honorário do Botafogo F.C., dirigindo e participando de várias entidades filantrópicas e também gerente da Cervejaria Antarctica, trabalhando junto a outros alemães cervejeiros. al outros alemães cervejeiros.m seguida se desfaziam por falta de recursos ou mesmo de sustentaç

Quinteto Max. Da esquerda para a direita: Ranieri Maggiori (bandolin), Dr. Camilo Mércio Xavier (flauta), Max Bartsch (cítara), Francisco de Biase (violino) e Arthur Marsicano (violão). Fonte: OSRP



A participação nos programas da rádio de pessoas não integrantes do Quinteto levou ao crescimento deste grupo de músicos, e fez surgir em 1930, a “Jazz Band Casino Antarctica”, que fazia apresentações em eventos externos da cidade, além das apresentações no próprio Cassino Antarctica.


Integrantes da “Jazz Band Cassino Antarctica” (elementos do “Quinteto Max” e outros),
década de 1930. Fonte: OSRP.



Em maio de 1938, um maior grupo de músicos, liderados por Max Barstch, fundou a Sociedade Musical de Ribeirão Preto, mantenedora da Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto, com o objetivo de promover a música sinfônica na cidade.
Os jornais da época traduzem a importância do primeiro concerto desta Orquestra, realizado no Teatro Pedro II, como mostra o jornal “Folha da Manhã” de 29 de setembro de 1938:
 “A sociedade de Ribeirão Preto teve o prazer de apreciar novamente uma noitada verdadeiramente artística com o concerto inaugural da Sociedade Musical, ultimamente aqui fundada (...).
O sumptuoso Theatro Pedro II apresentava-se repleto e às 20:30 horas, ergueu-se o panno, falando o Dr. Camillo de Mattos, que em ligeiras palavras se referiu aos sentimentos nobres dos artistas componentes da sociedade que estava sendo inaugurada, destinando parte dos resultados  daquelle concerto ao socorro a  um collega enfermo.
A seguir deu início a um longo discurso fazendo a apologia da música e salientando a figura insigne do maestro patrício, Carlos Gomes. Ao terminar, foi o orador muito applaudido e abraçado por D. Joaquina Gomes, irmã de Carlos Gomes, que não conseguiu occultar sua comoção provocada pelas referências feitas a seu irmão. Em seguida teve início o concerto, sendo executadas, em sua maioria, obras de Carlos Gomes, tendo a execução de todas ellas dado um bello attestado de competência artística do maestro Antônio Giammarusti e seus companheiros.
Durante o intervallo, Raul Laranjeira executou algumas músicas no seu violino, colhendo calorosos applausos. Está, pois, de parabéns a nossa população com o apparecimento de mais essa entidade artística e fazemos votos por que também o nosso povo corresponda à expectativa, cooperando no progresso da Sociedade Musical de Ribeirão Preto”.
Neste ano de 2008, a Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto comemora seus 70 anos apresentando uma trajetória cumprida através do esforço e idealismo de seus fundadores, com a missão de difundir a música e sob os aplausos do público, que sempre serviu de motivação para que suas atividades nunca parassem.

GISELE LAURA HADDAD


arquivohistorico@osrp.org.br


Artigo Publicado na Revista Movimento Vivace Ano I nº 2 abril de 2008

Uma História a Ser Contada



Vista Parcial de Ribeirão Preto. Fonte: Revista Ribeirão Preto exemplar de dezembro de 1939, Arquivo  Público e Histórico Municipal de Ribeirão Preto.
O registro da atuação e funcionamento da OSRP além de um simples "contar histórias", colabora ao resgatar o contexto cultural-histórico que permeou seu nascimento e sua consolidação e pode esclarecer a expressão da música erudita dentro da sociedade de Ribeirão Preto, cidade do interior do país, aparentemente sem precedentes deste teor.
Capa do Programa de Concerto promovido pela Sociedade  de Cultura Artística de Ribeirão Preto, em novembro de 1929, apresentando a Orchestra Symphonica de Ribeirão Preto. Fonte: Arquivo Pessoal Luiz Baldo.
Capa do Programa de Concerto oferecido pela Sociedade de Concertos Symphonicos de Ribeirão Preto no dia 3 de maio de 1923. Fonte: Arquivo Histórico OSRP.
A trajetória da OSRP mescla-se ao desenvolvimento da cultura cafeeira, a atuação de uma aristocracia e sua inserção na economia nacional e internacional, à chegada da Companhia Mogiana de Estradas de Ferro, ao início da industrialização, além de outros aspectos constantes na história de nossa cidade.
Ribeirão Preto possuía no início do século XX, condições favoráveis para a rápida assimilação das novidades que chegavam do exterior. A efervescência cultural desta época acontecia na mesma proporção em que crescia a fortuna dos coronéis do café que iam para a Europa e, com "algum atraso", traziam a "Belle Époque" para a cidade. Importavam champanhe francês, a boemia e o jogo dos cassinos, os espetáculos de ópera, a arquitetura e a culinária. O Brasil adotava um modelo urbanístico inspirado na remodelação de Paris (1880) e a cidade de Ribeirão Preto passou por este período durante a administração do prefeito Joaquim Macedo Bittencourt entre 1911 e 1920, com a instalação de rede de esgoto, iluminação elétrica, rinks de patinação, cinemas e teatros e remodelação do traçado das ruas, ocasionando também modificações nos usos e costumes. Estas alterações fizeram a cidade ficar conhecida como a "Petit Paris" paulista.
Neste período, aconteceram diversas tentativas para a criação e funcionamento de sociedades musicais sinfônicas por aqui. Através de programas de concertos desta época, percebemos que muitos dos nomes envolvidos nestas tentativas também fazem parte da formação da Orquestra de 1938. Por isso, há quem diga que a OSRP é ainda mais antiga e que apenas a Associação que a mantém, completa agora seus 70 anos.
Independente da data, o fato é que as pessoas que trabalharam para a prática da música sinfônica na cidade eram verdadeiros idealistas. Tendo como lema "A Boa Música Educa o Povo" (frase presente nos primeiros programas de concerto), a Sociedade Musical Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto pretendia: reunir todos os profissionais nesta Sociedade que seria sindical; o bem estar dos músicos; realizar pelo menos seis concertos anuais aos seus associados e ao público em geral e difundir a cultura musical em Ribeirão Preto. Seus fundadores foram pessoas de diferentes camadas sociais, identificamos, entre elas, as seguintes profissões: carteiro, fotógrafo, médico, advogado, comerciante, taxista, entre outros e alguns músicos, que se encontravam após o expediente do dia de trabalho para ensaiar. Tocavam por paixão à música.
Apresentação da Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto no Theatro Pedro II em 4 de maio de 1940.
Fonte: Arquivo HIstórico OSRP.














                  
Seria então esta Orquestra realmente Sinfônica? Não. Nossa Orquestra é Filarmônica. A diferença está não no repertório ou na quantidade de instrumentos, mas na maneira como ela se constitui juridicamente e administrativamente. A palavra "Sinfônica" indica um repertório composto por sinfonias e também serve para representar alguns grupos musicais mantidos exclusivamente pelo poder público ou de outras sociedades. O nome "Filarmônica" diz respeito às sociedades musicais mantidas por pessoas que demonstram interesse pela música: os amantes, ou amadores que acabam por subsidiar determinados conjuntos orquestrais. O nome "Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto" permanece por tradição. A diferença, então, é burocrática e não musical.
As razões que fazem a sociedade participar da prática da música sinfônica estão intimamente ligadas à representação e significância da Orquestra nesta sociedade. Pouquíssimas cidades do interior do país possuem o privilégio de uma Orquestra Sinfônica. Por isto, atentamos sobre o valor social e musical de nossa Orquestra: a atenção que ela recebe de seu público e as produções musicais por ela realizadas.
A partir destas considerações, a história começa, não com um "Era uma vez....", mas com a curiosidade que, transformada em interesse de conhecimento próprio, nos mata a sede deste saber. Assim, teremos muito a comemorar. (continua na próxima edição)

Gisele  Haddad
arquivohistorico@osrp.org.br

Artigo Publicado na Revista Movimento Vivace Ano I nº 1 março de 2008

Conheça o Arquivo Histórico da OSRP


Entre os documentos do Arquivo Histórico estão os manuscritos de partituras (muitos deles utilizados pela Orquestra na época de sua fundação), recortes de jornais, fotos, vídeos, programas de concerto, instrumentos, estatutos, material contábil e administrativo.  
O documentário, através da imprensa escrita sobre a OSRP, desde 1938 até 1941, e alguns recortes de outros anos foram colecionados e organizados por Max Bartsch, fundador e primeiro presidente da Orquestra. Os filhos de Bartsch presentearam esse material ao Dr. Camilo Mércio Xavier, outro diretor fundador que, em 1985, doou-os à Orquestra Sinfônica. A restauração e reorganização desse rico e importante material foi executada por Myrian de Souza Strambi, na mesma ordem conferida por Max Bartsch, visando perpetuar a história da OSRP no ano de seu Jubileu de Ouro (1988).

Com a devida autorização, começamos a manusear o material. Encontramos um depósito com papéis amontoados em caixas de papelão, distribuídos em três pequenas salas escuras e úmidas. Havia alto número de fontes manuscritas das partituras utilizadas pela orquestra no início de suas atividades, além de fotos, vídeos, recortes de jornais, programas de concertos e instrumentos, localizados em outras salas da sede.

A primeira providência foi a de retirar o material das salas úmidas para ventilação e separá-los em partes, de acordo com as seguintes características: compositores de Ribeirão Preto, compositores brasileiros, compositores estrangeiros e materiais supostamente anteriores à fundação da orquestra. Verificamos que foram feitos, com frequência, arranjos e adaptações a partir das edições estrangeiras, visando o tamanho da Orquestra. Em seguida, tratamos de encontrar partes perdidas da mesma música, pois algumas delas estavam em pacotes amarrados com barbantes, assim como quem embrulha um presente com fita, mas a maioria estava solta e misturada. Ficamos nesse estágio do trabalho, passando depois a higienizar todas as páginas dos manuscritos dos compositores de Ribeirão Preto e dos arranjos dos compositores nacionais como prioridade. Retiramos os barbantes, grampos e clipes enferrujados e colocamos o material em embalagens plásticas transparentes, para que não se misturassem novamente.

A contratação de um arquivista assistente, feita pela OSRP, em junho de 2008, demonstra o atual interesse dos dirigentes na consideração e publicação dos fatos históricos da OSRP, por intermédio do seu veículo oficial de divulgação, a Revista Movimento Vivace. Assim, a existência real do Arquivo da OSRP e suas informações sobre o passado passaram a fazer parte do presente, uma vez que esse conhecimento chega aos músicos e funcionários e a todos os que acompanham as apresentações da OSRP.

Em novembro de 2008, o Arquivo Histórico da OSRP foi por nós representado, no I Encontro de Centros de Documentação e Memória de Ribeirão Preto e Região, realizado pelo SESC, Fundação Theatro Pedro II e USP-RP.

Estamos organizando o acervo documental do Arquivo Histórico da OSRP para garantir a preservação e o conhecimento da história da OSRP e da história da música de Ribeirão Preto para os estudantes, pesquisadores ou interessados. Contamos com a colaboração da população para que doem programas de concertos, partituras, jornais, instrumentos, fotos ou vídeos que possam ser importantes para a história musical de nossa cidade. Para entrar em contato ligue 3610-8932 ou venha até a sede da OSRP, à Rua São Sebastião, 1002. Centro – Ribeirão Preto, SP.

A partir do Arquivo Histórico da OSRP, pretendemos a criação de um Centro de Documentação e Memória para que seu acervo seja preservado e disponibi-lizado para toda a população, considerando a importância da Orquestra como patrimônio cultural, musical e histórico de Ribeirão Preto.

Gisele Haddad - Mestre em Música pelo IA-UNESP/SP