A o que parece, Ribeirão Preto tende para o caminho do idealismo (...) Agora, acaba de se fundar a Sociedade Symphonica de Ribeirão Preto. Auspiciosa notícia, não há dúvida!
Teve a iniciativa dessa nova conquista para a cidade o sr. Max Bartsch, o grande gerente da Antarctica entre nós, apaixonado da boa música, espírito sempre voltado para as conquistas que visem enriquecimento espiritual do indivíduo. A Sociedade Symphonica já tem sua directoria e vae entrar em franca actividade de organização technica, arregimentação de sócios, etc., e em breve se revelará ao público desta cidade. (Jornal
“A Tarde” - 23 de maio de 1938)
Capa do programa do 1º concerto da OSRP realizado em
22 de setembro de 1938, no
Theatro Pedro II. Fonte: Arquivo Histórico OSRP
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A Sociedade Musical de Ribeirão Preto, mantenedora da Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto (OSRP), foi fundada em 23 de maio de 1938 com a finalidade de organizar uma nova orquestra e divulgar a música sinfônica na cidade. Na primeira página do estatuto de funcionamento desta sociedade consta que ela “nasceu de um punhado de homens idealistas, para afirmar de público que um monumento seria erigido nesta cidade, em homenagem à música. E esse movimento sintetizaria o símbolo da harmonia reinante no seio da classe musicista que, sem viver em dispersão, trabalharia em benefício da Arte Musical, difundindo pela sua orquestra sinfônica a boa música, no sentido do aprimoramento cultural do povo”.
O empenho de Max Bartsch, primeiro presidente da OSRP, fazia efeito junto aos músicos e à sociedade local. Era dele a frase “A Boa Música Educa o Povo” impressa nos primeiros programas de concerto. Todos juntos, presidência, diretoria e músicos, trabalhavam na prestação de serviços voluntários para o bom funcionamento da OSRP objetivando os resultados musicais.
A OSRP ficou logo conhecida, pois era a única no gênero em todo o interior do estado de São Paulo. Contava com alguns maestros, que se alternavam nos 12 primeiros concertos e com músicos amadores. Ignázio Stábile foi o primeiro maestro titular, assumiu a regência em 1941, trabalhou como copista e orques-trador, adaptava as peças musicais para a formação disponível, também era compositor e preparava os músicos para os concertos. Grande incentivador, trabalhou pela Orquestra até seu falecimento em 1955. Ganhava com aulas particulares já que ser músico era seu único ofício.
Capa do programa de concerto realizado em 28 de abril de 1988, no Teatro Municipal
de Ribeirão Preto, em comemoração aos 50 anos
da OSRP. Fonte: Arquivo Histórico OSRP
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Sempre houve por parte da diretoria a preocupação com a qualidade sonora das apresentações. Desde o início e durante mais de 20 anos, diversos corais da cidade participaram enriquecendo o repertório dos concertos, sendo que na década de 1950, a Orquestra mantinha seu próprio corpo coral, mas que teve curta existência, apresentando-se apenas por 3 vezes. A Orquestra incluiu também a participação de importantes solistas nacionais e internacionais e maestros convidados. Seu repertório contemplou as obras dos grandes compositores europeus e brasileiros, com certa predileção pela obra de Carlos Gomes, mas também com espaço para compositores que moravam na cidade: Homero Barreto, Edmundo Russomanno, Belmácio Pousa Godinho, Ignázio Stábile, entre outros.
Até o final desta mesma década (1950), a Orquestra somava mais de 100 concertos, o que pode ser considerado muito para a época e as circunstâncias. Com poucos recursos financeiros oriundos dos sócios e da posterior subvenção da prefeitura, sua existência foi considerada “um milagre” pela imprensa já em seu primeiro ano de vida, resistindo com o passar dos anos a crises financeiras, administrativas, deficiência de instrumentos, falta de músicos, de sede própria e descrenças, entre outras dificuldades. O reflexo desta realidade pode ser percebido no número de concertos, uma média de 40 a cada 10 anos, quadro que se alterou somente na década 1980, quando o número passa para 73 concertos.
Mesmo com tantas dificuldades, a Orquestra nunca parou suas atividades. Registrou uma preocupação constante com sua qualidade musical, mantendo enquanto pôde o seu Conjunto Coral (1954), a Escola de Instrumentistas (1977), a Camerata de Fesch (1980) e a Orquestra Jovem (1985). Considera a sua responsabilidade social e continua na missão de divulgar a música erudita.
Imagem do 2º concerto da OSRP realizado no Theatro Pedro II.
Fonte: Arquivo Histórico OSRP
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Saudamos Ribeirão Preto por possuir o privilégio de uma Orquestra Sinfônica, hoje profissional. Comemoramos e lembramos o trabalho árduo e o idealismo de todos os seus músicos, fundadores e administradores, desde o presidente Max Bartsch, as diretorias e os seus sucessores, os patrocinadores, sócios e público que fizeram e fazem da OSRP, história e tradição, a expressão musical de nossa cidade.
Gisele Laura Haddad
arquivohistorico@osrp.org.br
Artigo Publicado na Revista Movimento Vivace Ano I nº 3 maio de 2008