No início do século XX, Ribeirão Preto era considerado grande centro urbano com um comércio completo, que supria a vida social com todas as exigências do viver moderno. A fortuna dos coronéis do café proporcionou a propagação do progresso em termos de infra-estrutura e hábitos sociais, inspirados na cultura de “Belle Époque”. Surgiram, neste contexto, vários locais para os eventos sociais: o Teatro Carlos Gomes, o Teatro Eldorado; o Teatro High-Life; o Bijou Theatre; o Paris Theatre; a Sociedade Recreativa de Esportes; a Sociedade Dante Alighieri, a Sociedade Legião Brasileira de Assistência, entre outros.
O principal promotor dos entretenimentos noturnos em Ribeirão Preto e gerente das diversões noturnas dos teatros e cassinos na cidade foi o empresário francês François Cassoulet, que viveu e trabalhou por aqui entre os anos de 1894 e 1917, inaugurou inicialmente um “Café Concerto” e em seguida casas teatrais.
A presença deste conjunto de estabelecimentos originou mudanças nos hábitos de entretenimento da população, que até então usufruía da Praça XV de Novembro para os passeios e a apresentação das retretas das bandas musicais (característica típica da influência dos imigrantes italianos) e das apresentações produzidas por sociedades sinfônicas ou conjuntos musicais de bares e saraus. O repertório trazia hinos, música erudita e popular, marchas e dobrados (marcha militar de andamento rápido), chansons francesas, canções napolitanas e tangos argentinos.
Qualquer formação musical desta época era tratada por “orquestra”, independente dos instrumentos ou do número de integrantes e mesmo com as grandes produções operísticas apresentadas no Teatro Carlos Gomes, havia a necessidade da prática da música sinfônica dentro do momento cultural em que se vivia. As sociedades sinfônicas surgiram para esta conveniência, promoveram e fortaleceram o repertório erudito, mas com formações amadoras, onde partituras eram adaptadas para o conjunto existente e o piano supria os instrumentos que faltavam. Muitas sociedades sinfônicas foram formadas, mas em seguida se desfaziam por falta de recursos ou de sustentação administrativa.
A inauguração da emissora de rádio na década de 1920 (antiga PRA-7) ampliou ainda mais o campo de atuação dos músicos, que formavam seus conjuntos para participar da programação da emissora. Com isso, novos artistas eram atraídos para a cidade e a população passou a conhecer além do repertório local, composições regionais.
Um dos conjuntos musicais desta rádio era o “Quinteto Max”, que levava o nome do alemão Max Bartsch, músico e agrônomo que atuou com seu trabalho em Ribeirão Preto em diversas atividades como: jardineiro da prefeitura, presidente honorário do Botafogo F.C., dirigindo e participando de várias entidades filantrópicas e também gerente da Cervejaria Antarctica, trabalhando junto a outros alemães cervejeiros.
Quinteto Max. Da esquerda para a direita: Ranieri Maggiori (bandolin), Dr. Camilo Mércio Xavier (flauta), Max Bartsch (cítara), Francisco de Biase (violino) e Arthur Marsicano (violão). Fonte: OSRP |
A participação nos programas da rádio de pessoas não integrantes do Quinteto levou ao crescimento deste grupo de músicos, e fez surgir em 1930, a “Jazz Band Casino Antarctica”, que fazia apresentações em eventos externos da cidade, além das apresentações no próprio Cassino Antarctica.
Integrantes da “Jazz Band Cassino Antarctica” (elementos do “Quinteto Max” e outros), década de 1930. Fonte: OSRP. |
Em maio de 1938, um maior grupo de músicos, liderados por Max Barstch, fundou a Sociedade Musical de Ribeirão Preto, mantenedora da Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto, com o objetivo de promover a música sinfônica na cidade.
Os jornais da época traduzem a importância do primeiro concerto desta Orquestra, realizado no Teatro Pedro II, como mostra o jornal “Folha da Manhã” de 29 de setembro de 1938:
“A sociedade de Ribeirão Preto teve o prazer de apreciar novamente uma noitada verdadeiramente artística com o concerto inaugural da Sociedade Musical, ultimamente aqui fundada (...).
O sumptuoso Theatro Pedro II apresentava-se repleto e às 20:30 horas, ergueu-se o panno, falando o Dr. Camillo de Mattos, que em ligeiras palavras se referiu aos sentimentos nobres dos artistas componentes da sociedade que estava sendo inaugurada, destinando parte dos resultados daquelle concerto ao socorro a um collega enfermo.
A seguir deu início a um longo discurso fazendo a apologia da música e salientando a figura insigne do maestro patrício, Carlos Gomes. Ao terminar, foi o orador muito applaudido e abraçado por D. Joaquina Gomes, irmã de Carlos Gomes, que não conseguiu occultar sua comoção provocada pelas referências feitas a seu irmão. Em seguida teve início o concerto, sendo executadas, em sua maioria, obras de Carlos Gomes, tendo a execução de todas ellas dado um bello attestado de competência artística do maestro Antônio Giammarusti e seus companheiros.
Durante o intervallo, Raul Laranjeira executou algumas músicas no seu violino, colhendo calorosos applausos. Está, pois, de parabéns a nossa população com o apparecimento de mais essa entidade artística e fazemos votos por que também o nosso povo corresponda à expectativa, cooperando no progresso da Sociedade Musical de Ribeirão Preto”.
Neste ano de 2008, a Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto comemora seus 70 anos apresentando uma trajetória cumprida através do esforço e idealismo de seus fundadores, com a missão de difundir a música e sob os aplausos do público, que sempre serviu de motivação para que suas atividades nunca parassem.
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Artigo Publicado na Revista Movimento Vivace Ano I nº 2 abril de 2008