27 de agosto de 2011

SOCIEDADE MUSICAL DE RIB. PRETO

Em 31 do corrente se á levado a effeito o 3º Concerto sob a regência do Ms. Pires – Uma campanha pró sócios.

Assignado pelos srs. Max Bartsch e Francisco De Biasi, respectivamente presidente e secretario da Sociedade Musical de Ribeirão Preto, recebemos o seguinte comunicado:
O III.º Concerto Symphonicoda <<Sociedade Musical de Ribeirão Preto> realisar-se-a no dia 31 deste mez, no Theatro Pedro II sob a regência do Maestro Alfredo Pires, do 3º B. C. da Força Publica.
O programma a ser executado consta das seguintes peças (Vide programma incluso)
A Sociedade Musical tem absoluta certeza de que os dias de seus concertos serão considerados os dias elegantes de nossa terra, porque Ribeirão Preto, com a fundação desta Sociedade, está na vanguarda de seu progresso artístico, e quiçá do Estado de São Paulo, deste D. Paulo brasileiro.
No próximo mez de Fevereiro a Sociedade Musical vae iniciar a campanha de SOCIOS, e desde já conta com a sympathia da culta Ribeirão Preto para essa campanha, e o êxito da mesma demonstrará bem o grau de nosso gosto pela musica.
Communica, ainda, que o quarto concerto será regido pelo Maestro Ignacio Stabile, já bastante conhecido de nosso publico pela sua alta competência.
O Programma que se refere o communicado acima é o seguinte:
            1ª Parte –
Felix Wendelssohn – La Grote de Fingels (Hebridas) Concerto Ouverture.
            Ormano Gomes – E´legie – Scena triste:
            J. Messenet Manon – Grande phantasia.
            L. Beethoven – Ruinas D´Athenas – Marcha Turca.
            Boildien – Le Calife de Bagdad (Opera Comica) Ouverture.
            2ª Parte
            Franz Schubert – Simphonie in H Moll (Symphonia Inacabada).
            Alberto Nepomuceno – Alvorada da Serra – Legenda n. 1 serie brasileira.
            Ad. Sellenick – Phantaisa Arabe.
A.    Scassola – Britannicus – Ouverture.


Transcrição feita por Gisele Haddad a partir de recorte do jornal “A Cidade” de 22 de janeiro de 1938. O documentário, através da imprensa escrita sobre a OSRP, desde 1938 até 1941, e alguns recortes de outros anos foram colecionados e organizados por Max Bartsch, fundador e primeiro presidente da Orquestra. Os filhos de Bartsch presentearam esse material ao Dr. Camilo Mércio Xavier, outro diretor fundador que, em 1985, doou-os à Orquestra Sinfônica. A restauração e reorganização desse rico e importante material foi executada por Myrian de Souza Strambi, na mesma ordem conferida por Max Bartsch, visando perpetuar a história da OSRP no ano de seu Jubileu de Ouro (1988).


Publicado na revista Movimento Vivave Ano IV nº 34 agosto de 2011.

Gisele Haddad

arquivohistorico@osrp.org.br

7 de agosto de 2011

Rui Fonseca e a Tuba

O que leva alguém a tocar tuba? Este é o título da crônica bem-humorada do jornalista Alessandro Martins ao explicar sobre a tuba, sua história e o desafio de se tocar. E esta é a pergunta que apareceu quando vi Rui Fonseca pela primeira vez. 
Vestido com elegância, trajando seu chapéu, Rui Fonseca caminhou desde sua casa no Jardim Macedo em busca de um professor de música que tocasse especificamente baixo tuba. Com 92 anos comemorados no dia 17 de março, chama a atenção de todos por tanta disposição e conta sua história.

De uma família de nove irmãos, Rui viveu na cidade de Cravinhos e ficou órfão aos oito, quando o carro de seu pai foi atingido por um trem no cruzamento entre estradas a caminho de Serrana. Os irmãos foram separados, os meninos foram para a casa do avô, doada pela Companhia Mogiana de Estradas de Ferro por ocasião do acidente, e as meninas ficaram com a mãe que era costureira de uma fábrica de colchões.

Alguns de seus irmãos tiveram contato com a música, entre eles a professora primária Cândida que gostava de canto, Ruth que era grande pianista e chegou a se apresentar no Éden Teatro de Cravinhos (onde atualmente uma igreja) e o irmão Rúbio que tocava todos os tipos de instrumento “de ouvido”, além do avô, o relojoeiro Leon Grandejan que possuía os mais variados instrumentos musicais em casa. Também um de seus tios, o tio Armando, era violinista e chegou a tocar em 1919 na Companhia de Operetas Italianas que se apresentava em Cravinhos e, apesar de não ler partitura, era tão bom violinista que o maestro queria levá-lo para trabalhar como músico na Itália.

Na época, o município de Cravinhos era um grande centro urbano da região e possuía uma banda municipal regida pelo maestro Jorge Fonseca. Aos 17 anos Rui pediu ao maestro que lhe ensinasse música, recebeu a negação com o argumento de que toda a sua família tocava “de ouvido”. Mesmo assim, foi até a tipografia, comprou um caderno pautado, dirigiu-se até o ensaio da banda e novamente solicitou aulas de música. Segundo ele, não errava qualquer lição, a banda já solfejava enquanto ele ainda aprendia e em pouco tempo perguntou ao maestro: “Irei tocar trombone ou piston?”, e veio a resposta: “Irá tocar baixo aéreo”. A banda cedeu o instrumento e Rui tocou na cidade por três anos. Em 1940 mudou-se para Ribeirão Preto e passou a tocar na Banda Independente, do maestro Américo Silva que contava com 18 músicos.

A Banda Independente era contratada da prefeitura e mantinha duas salas na Rua Visconde de Inhaúma entre as ruas General Osório e São Sebastião que serviam como sede e para os ensaios. Os músicos tinham como compromisso se apresentar semanalmente no Bosque Municipal, na Praça 7 de Setembro e na praça de Vila Tibério. Na primeira hora de apresentação a banda oferecia um repertório de músicas populares e, na segunda, peças eruditas, sendo que no Bosque só tocavam músicas populares. Recebiam cachês e a maioria dos músicos não era profissional. Rui, por exemplo, trabalhava no pastifício e panifício Zanelo com diversas funções.

Tocou na banda até 1942 quando foi convocado para servir o Governo na II Guerra Mundial. Passou a trabalhar em uma fábrica de pólvora na cidade de Piquete-SP, onde ninguém queria trabalhar para não correr risco de intoxicação. Foi quando se apresentou como músico profissional e foi requisitado para tocar na Banda Militar de Piquete onde ficou por seis meses.

Em 1943 voltou para Ribeirão Preto e foi substituir músicos nos conjuntos: Jazz Imperial, Jazz Columbia, Jazz Casino Antarctica, Jazz Malzebier e Jazz Band Bico Doce. A maioria destes conjuntos era formada por ocasião do carnaval e logo se desfazia. Outros, como o conjunto Jazz Imperial, se apresentava nos bailes frequentados pela “alta sociedade” promovidos na “caverna” (subsolo do Theatro Pedro II) e em outros eventos sociais.

Nunca quis ser músico profissional, referindo-se ao trabalho como músico militar diz: “Não gosto de receber ordem”.

A música sempre significou amizade, tocava por gostar da atividade, assim, de graça e onde fosse chamado. “Eu, como músico, no meu instrumento, era maestro”. Muitas vezes dispensava o cachê. Depois de se casar em 1947 com D. Elídea Farinha Fonseca vieram os filhos José Renato, Valter e Regina e Rui passou a se dedicar apenas à família. “Sou muito caseiro”.

Animado com tantas lembranças, diz que todo músico tem muita história para contar. Quando perguntado sobre seu acervo pessoal diz que tudo se perdeu no tempo, inclusive o smoking, vestimenta para os bailes. Recentemente ganhou uma tuba da fábrica Weril de São Paulo, mas ainda espera encontrar um professor por aqui. O que leva alguém a tocar tuba? Contingência. Aí está o exemplo de Rui Fonseca. Está certo o jornalista Alessandro Martins.




Gisele Haddad

arquivohistorico@osrp.org.br

Publicado na Revista Movimento Vivace Ano IV nº 33 Junho de 2011.

As partes de La Bohème

O maestro, ao apresentar um concerto, sinfonia ou ópera,
possui a partitura completa de todos os
instrumentos. O músico executante tem a parte.

Dividimos a mesa de trabalho ao meio.  Enquanto fazia meu trabalho, às vezes olhava para o lado e lá estava o arquivista, compenetrado, organizando partes da ópera La Bohème (Puccini), ainda antes que os músicos chegassem para o ensaio.  E me dizia: “estas partes são bem antigas, muito interessantes”. Mesmo assim, só ele as manuseava e as preparava para os músicos, com todo o critério para que não se perdesse a ordem, os detalhes, a responsabilidade.
Alguns dias depois, as flautistas me falaram das peculiaridades dessas partes: marcações de músicos, muitas datadas da primeira metade do século XX, desenhos, definições de sentimentos, tudo grafado de punho, das diversas vezes em que as partes foram utilizadas por várias orquestras através dos tempos, desde sua publicação. Dentre as curiosas anotações para a execução, muitas precisavam ser escritas, como um alerta para o músico virar a página rapidamente.
Alguns músicos achavam o material “velho demais”, ou melhor, desgastado pelo tempo.
Percebendo que esse é o tipo de informação que nunca chegaria à plateia, decidi observar e escrever este mês sobre as partes de La Bohème, exatamente esta, utilizada pela OSRP para as apresentações no Theatro Pedro II.

Origem
A partitura da ópera La Bohème é uma publicação de uma das editoras de partituras mais antigas do mundo, a Ricordi. Fundada em 1808 na cidade de Milão por Giovanni Ricordi, a Casa Ricordi tem hoje seu nome mundialmente reconhecido pelas mais belas edições das óperas Italianas. Giovanni começou com uma pequena tipografia que em pouco tempo se tornou a principal casa de edição musical italiana. Em 1814 a casa é proprietária de 800 partituras, passando a 10.000 edições próprias em 1834, contendo as óperas dos três maiores autores da época: Rossini, Bellini, Donizetti. Em 1864, acontece a abertura da primeira sucursal em Napoli, seguindo para Firenze em 1865, Roma em 1871, Londres em 1878, Palermo e Paris em 1888. 
Em 1924, como uma empresa centenária de história e tradição, a Ricordi chega a América do Sul abrindo sua filial em Buenos Aires e, finalmente, em 1927, chega ao Brasil, com escritório em São Paulo, hoje situado no bairro Campos Elíseos.
Vestígios
As edições possuem encadernações primorosas, enriquecidas por grafias dos músicos que já a utilizaram. No interior das partes de alguns instrumentos, são notadas inscrições como: “infindável outubro de 81”; “1982 - aposentadoria” com um sol desenhado ao lado; desenho de relógio marcando o horário de fim do espetáculo atrasado e diversas assinaturas, ano de execução e nome de orquestras. Podem também ser observados desenhos de óculos em trechos da música onde o músico deve estar mais concentrado e atento, além de outros traços que ainda necessitam investigação, incluindo o desenho de um enorme disco voador com astronauta.
Outra observação, esta geralmente feita por musicólogos em publicações e manuscritos, é a sujeira no canto inferior direito das páginas, região das viradas. Geralmente quando vemos um documento antigo podemos dizer “que beleza, como está limpo e preservado”, quando na verdade isso significa que a partitura não foi muito utilizada.  Nas partes de La Bohème essa região é muito suja pela oleosidade dos dedos, demonstrando que são antigas e que foram muito utilizadas. O funcionário da Ricordi, Osmar Nogueira, afirma que esta publicação em específico é italiana, chegou a São Paulo com a inauguração da editora e, desde então, esta é a parte mais utilizada e a ópera mais apresentada do Brasil.
As partes foram devidamente devolvidas à editora dias depois das récitas, com diversas assinaturas e mais uma inscrição para sua história: Theatro Pedro II, Ribeirão Preto, 2011.









Gisele Haddad

arquivohistorico@osrp.org.br


Publicado na Revista Movimento Vivace Ano IV nº 31 abril de 2011.

Cronologia OSRP

Pesquisa: Gisele Haddad
Fontes utilizadas: jornais e programas de concerto constantes no Arquivo Histórico da OSRP, livro “50 anos de Orquestra Sinfõnica em Ribeirão Preto” de Myriam de Souza Strambi, Editora Legis Summa (1989).


1938
- 23/05: Fundadação da Sociedade Musical de Ribeirão Preto, mantenedora da OSRP, tendo como presidente Max Bartsch e vice-presidente Francisco de Biase.

- 22/09: Primeiro concerto da OSRP, sob a regência do maestro Antônio Giammarusti, escolhido por sorteio entre os vários que residiam na cidade. O primeiro concerto foi em homenagem ao compositor Antônio Carlos Gomes, Theatro Pedro II.

1939
- Inauguração da sede social da Sociedade Musical na sala n. 239 do Edifício Diederichsen.

- 17/07: Recital de Piano das alunas do maestro Antônio Giammarusti com 12 pianos emprestados pelas famílias da cidade, no palco do Pedro II – o evento arrecadou fundos para a aquisição de instrumentos para a Orquestra.

1940
- A Sociedade Musical oferece ensino gratuito de música desde o nível elementar até o ensino técnico oferecendo inscrições para violoncelo, contrabaixo, oboé, fagote, viola e trompa.

            - Assume a batuta Ignázio Stábile, primeiro maestro-titular da Orquestra.

- 27/04: Orquestra se apresenta no banquete oferecido a 350 pessoas realizado na cidade de São Paulo, oferecido ao presidente da República Getúlio Vargas por ocasião dos festejos comemorativos do segundo aniversário do governo estadual de Adhemar de Barros.

1941
- Participação da Orquestra Sinfônica na inauguração do Cine Teatro Rio Preto de São José do Rio Preto-SP.

1942
- A Sociedade Musical promove campanha para a instalação do busto em homenagem ao também maestro Cônego Barros, na Praça da Bandeira.

1943
- É realizado em abril o 26º concerto Sinfônico no Theatro Pedro II.

1944
- 25/09: Apresentação da Orquestra no Teatro Santa Maria em Franca-SP.

1945
- 26/03: Apresentação da Orquestra no Cine Teatro Rosário da cidade de Ituverava-SP.

1946
- 08/11: Realizado o 46º concerto sinfônico.

1947
- 06/06: Realizado o 49º concerto sinfônico.

1948
-18/06: Em plena crise financeira, a Sociedade Musical lança o Livro de Ouro dos Sócios Beneméritos, aberto com assinatura de Sinhá Junqueira, cuja principal doação foi um terreno na Avenida Francisco Junqueira que, mais tarde, veio a ser substituído pelo imóvel da atual sede na Rua São Sebastião.

1949
- 24/04: Apresentação da Orquestra na cidade de São Joaquim da Barra-SP, no auditório da rádio local (ZYK4).

1950
- Ribeirão Preto recebeu a menina italiana Giannella di Marco para reger a OSRP. Com apenas 5 anos de idade, sua precocidade e genialidade eram definidos pela imprensa mundial.

1951
- 26/10: 73º concerto sinfônico.

1952
- A Orquestra se apresenta no Cine Teatro de Uberlândia-MG sob a regência do maestro Ignázio Stábile.

1953
- 26/06: Com 40 músicos, é realizado o 82º concerto sinfônico da OSRP.

1954
- 30/04: 87º concerto com a participação da Banda dos Meninos do Educandário Coronel Quito Junqueira, sob a regência de Edmundo Russomanno.

1955
- 02/02: Estreia do “Grande Coral da Sociedade Musical de Ribeirão Preto”, como parte do programa do 88º concerto da OSRP, sob a batuta do maestro Ignazio Stábile.

            - Participação do Coral e Orquestra da Sociedade Sinfônica na Temporada Lírica de Óperas em que foram apresentadas no Theatro Pedro II, sob a regência de Enrico Ziffer: Madame Butterfly (Puccini), La Traviata (Verdi), La Bohème (Puccini) e Rigoletto (Verdi).

            - Por ocasião do falecimento do maestro Ignázio Stábile, a OSRP é regida por Edmundo Russomanno e Enrico Ziffer, até o mês de agosto quando assume como titular o maestro Jorge Kaszás.

1956
-09/03: 96º concerto sinfônico.

1957
-Sem maestro-titular definido, OSRP é novamente regida por Edmundo Russomanno e depois por Leonid Urbenin, sendo o título assumido em julho por Enrico Ziffer.

1958 – 107º concerto  promovido pela Sociedade Musical de Ribeirão Preto com a colaboração da Sociedade Coral de Ribeirão Preto

1959 – 112º concerto dia 27 de fevereiro, maestro Enrico Ziffer, Pedro II

1960
- Início da construção da sede da Rua São Sebastião, que se resumia a um salão para ensaios e reuniões.

1961 – 125º concerto dia 20 de outubro promovido pela Sociedade Lítero Musical apresentando sua Orquestra Sinfônica e Coral, maestro Enrico Ziffer

1962
- Assume a batuta o maestro-titular Spartaco Rossi, com a assistência do maestro-convidado Hércules Gumerato.

1963
- 22/01: Primeira reunião da diretoria na nova sede.

1964 – dias 17, 18 e 19 de agosto Orquestra e coral da Sociedade Lítero Musical, ao todo 97 pessoas apresentam-se em São Paulo sob a regência de Spartaco Rossi. As apresentações ocorreram no auditório do Colégio Mackenzie, no Clube transatlânticoe no auditório da Fundação Armando Alvares Penteado

1965 – dia 19 de novembro a orquestra se apresenta na cidade e Batatais sob batuta do maestro Spartaco Rossi

1966 – 149º concerto da Sociedade Lítero Musical dia 29 de abril maestro Spartaco Rossi no Ginásio da Sociedade recreativa de Esportes

1967 – realizado dia 8 de dezembro o tradicional Concerto de Natal no Pedro II com orquestra e coral


1968 – segundo o jornal O Diário, dia 21 de agosto sexta-feira apresentação da OSRP às 20horas no Cine Pedro II

1969 – Noite de Arte promovida pela Sociedade Lítero musical com Orquestra em Coral, 165º concerto em homenagem a Villa-Lobos maestro Spartaco Rossi Pedro II dia 7 de novembro

1970
- Falece Max Bartsch (1888-1970), fundador e primeiro presidente da OSRP.

            - Assume o título de maestro Hércules Gumerato, tendo Hermann Schelk como maestro-convidado.

1971 – 171º concerto Pedro II dia 3 de setembro como parte das comemorações na Semana da Pátria, maestro Hércules Gumerato

1972 – dia 24 de novembro 175º concerto apesar das dificuldades: reforma e construção de suplemento no prédio da sede da rua São Sebastião, falta de local para ensaios, transferencias de músicos e outros contratempos

1973 – dia 28 de janeiro é publicado no jornal A Cidade: Finalmente em Nova Sede a Litero Musical, onde são homenageados os nomes de todos aqueles que se esforçaram para que enfim a sede da rua São Sebastião estivesse concluída

1974 – 182º concerto orquestra e Coral regente Hercules Gumerato dia 6 de dezembro Pedro II, concerto este promovido pela Sociedade Lítero Musical de Ribeirão preto e pela Secretaria de Educação, Saúde e Bem estar Social do município

1975 – é divulgado no jornal O Diário o título “ Soluções para a Sinfônica”, colocando em voga que esta orquestra é a primeira em todo o interior do Brasil, suas dificuldades e sugestões para a solução destas dificuldades

1976
- Assume a batuta o maestro José Viegas Netto.

1977
- Fundação da Escola de Instrumentistas da OSRP para formação de novos músicos.

1978
- Apresentação da Orquestra Juvenil da Escola de Instrumentistas da Sociedade Lítero Musical.

1979
- Lutero Rodrigues é o novo maestro-titular, tendo como maestro convidado Isaac Karabtchewsky.

1980
- Concerto de Protesto, na esplanada do Theatro Pedro II, sob a regência dos maestros Isaac Karabtchewsky e Lutero Rodrigues, pelo abandono do Theatro após incêndio.

- Surge o grupo musical “Camerata de Fesch” e a “Orquestra de Câmara de Ribeirão Preto”, como resultado do trabalho da Escola de Instrumentistas.


1981
- Assume o cargo de maestro-titular Marcos Pupo Nogueira, tendo como convidados Diogo Pacheco e Bernardo Federowsky.

1982 – Inicia-se a construção do prédio localizado na esquina das ruas Florêncio de Abreu e Floriano Peixoto, com a colaboração de empresas e pessoas que entendem a causa da Sinfônica

1983 – 262º concerto da OSRP no Clube SOS de Dumont com a regência de Marcos Pupo Nogueira

1984 - em 11 de abril é noticiado no jornal A Cidade que a Sociedade Lítero Musical quer concuir a construção do Edifício localizado na esquina das ruas Florêncio de Abreu e Floriano Peixoto e que proporcionará renda para a Orquestra Sinfônica
- Sociedade Lítero Musical recruta jovens para sua escola de música

1985
- A Orquestra Jovem de Câmara de Ribeirão Preto, derivada dos grupos anteriores, representa Ribeirão Preto no 2º Encontro de Orquestras Jovens de Tatuí.

1986 – Criada em Ribeirão Preto a primeira escola de música  do interior num esforço conjunto da Sociedade Lítero Musical e da Prefeitura

1987 – 281º concerto da OSRP realizad ona Sociedade Recreativa de Esportes dia 5 de outubro, maestro Marcos Pupo Nogueira

1988
- Comemorações dos Jublileu de Ouro da Sociedade Musical.

1989 – 298º concerto da OSRP realizado noTeatro Municipal de Ribeirão Preto  dia 20 de abril maestro marcos Pupo Nogueira


1990  - dia 19 de junho tradicional concerto de aniversário da cidade de Rieirão Preto no Teatro Municipal, maestro Marcos Pupo Nogueira

1991 – dia 23 de junho, domingo, a OSRP participa das festividades dos 135 anos de Ribeirão Preto se apresentando no Teatro de Arena

1992 – 4 de dezembro, última apresentação do ano com a participação dos 12 músicos da Bulgária que vieram para o Brasil especialmente para trabalhar na OSRP, sociedade Recreativa maestro marcos Pupo Nogueira

1993 –  A OSRP  faz concurso para contratação de músicos Atua como maestro convidado Filipe Lee

1994 – Jorge Salim assume como maestro-titular da OSRP


1995
- Roberto Minczuk assume como maestro-titular e apresenta a OSRP no Festival de Inverno de Campos do Jordão

1996
- Início das apresentações do Projeto “Juventude Tem Concerto”, patrocinado pela Telefônica, projeto com caráter didático, que visa à formação de público e que abre espaço para solistas jovens e músicos da própria Orquestra.

- Mônica Meira Vasquez atua como primeira maestrina da OSRP (assitente)

- Concerto de reinauguração do Theatro Pedro II.

1997 – Abertura do 1º Congres of Pharmaceutical Sciences dia 22 de abril no Theatro Pedro II com o maestro convidado Rubens Ricciardi

1998 – concerto 519 da OSRP na Theatro pedro II com a participação do coral sinfônico do estado de São Paulo dia 7 de março

1999 – concerto 590 na cadeia pública de vila branca com o maestro assistente Fábio Costa dia 22 de dezembro

2000
- Apresentação da Ópera Cavalleria Rusticana (Mascagni) regida pelo maestro Túlio Colacioppo no Theatro Pedro II.

2001 – assume como maestro titular Norton Morozowicz
- Apresentação da Ópera La Traviata (Verdi) regida pelo maestro Túlio Colacioppo no Theatro Pedro II
-concerto de reabertura do Teatro Municipal de Sertãozinho dia 4 de julho, com o maestro convidado Olivier Toni

2002
- Cláudio Cruz assume o cargo de maestro-titular
- Ricardo Kanji atua como maestro convidado

2003 – assume maestro titular Matheus Araújo cujo primeiro concerto aconteceu no domingo dia 9 de março comemorando o dia da mulher

2004 – Marcos Arakaki maestro titular convidado Alex Klein

2005  Cláudio Cruz assume como maestro titular da OSRP

2006 – inicia-se o trabalho de pesquisa no Arquivo Histórico da OSRP para colher informações referentes à história da música da cidade de Ribeirão Preto e da própria OSRP

2007
- Apresentação da Ópera Rigoletto (Verdi) regida por Cláudio Cruz.

2008
- São homenageados, no Concerto de Aniversário de 70 anos da OSRP, os fundadores: Manoel da Silva (1896-1963), Luiz José Baldo (1909-2010) e o ex-violinista Gilberto Baldo (1924–2011), na ocasião, Luiz José Baldo esteve presente acompanhado de sua família.
            - Através de concurso, Henrique Vieira assume o cargo de maestro-assistente.
- Surge a Revista “Movimento Vivace”, veículo oficial que divulga as atividades e a programação mensal da OSRP. A revista abre espaço para as demais expressões culturais de Ribeirão Preto e Região e também tem espaços publicitários para os patrocinadores, patronos e apoiadores

2009  
- OSRP lança campanha pela Lei Rouanet

2010
- 04/04: Falece, aos 100 anos de idade, Luís José Baldo, fundador e ex-violinista da OSRP.
 - OSRP participa da Abertura Oficial do Ano Chopin no Brasil na Sala São Paulo, promovido pela Sociedade Cultura Artística de São Paulo, dia 13 de março
- A OSRP participa da cerimônia de posse do presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo, dia 5 de fevereiro na sala São Paulo. Na solenidade, que marcou também a abertura do Ano Judiciário de 2010, foram empossados os demais integrantes do Conselho Superior da Magistratura
- Atua como maestro-convidado em diversos concertos o violinista Reginaldo Henrique Nascimento.

2011
- Apresentação da Ópera La Boheme (Puccini) regida por Cláudio Cruz.
            - Reginaldo Henrique Nascimento é nomeado maestro-assistente de Cláudio Cruz.


Gisele Haddad

arquivohistorico@osrp.org.br

Publicada na Revista Movimento Vivace Ano III nº 32 maio de 2011.

Arquivo da OSRP conta a história da música em Ribeirão

A Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto (OSRP) foi fundada em 1938 como uma Orquestra particular, mantida pela “Sociedade Musical de Ribeirão Preto” e é a segunda mais antiga do país em funcionamento ininterrupto atrás apenas da Orquestra Sinfônica Brasileira do Rio de Janeiro, fundada em 1937.  A pesquisa “Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto: Representações e Significado Social” (dissertação de mestrado) teve início em 2006 a partir das visitas feitas à sua sede, onde constatamos a existência de um riquíssimo Arquivo Histórico até então inexplorado e abandonado pelo tempo.
Acompanhei desde minha infância os concertos da OSRP, estudava piano e via nela a oportunidade para conhecer e entender melhor o repertório erudito. Passei a atuar profissionalmente na educação musical e, como professora, tive a necessidade de estudar constantemente até me interessar e desenvolver um projeto para o curso de mestrado. Através de contato com o Prof. Dr. Marcos Pupo Nogueira (IA-UNESP-SP), que atuou na OSRP durante 14 anos, tive conhecimento da existência de partituras manuscritas armazenadas na sede da Orquestra, o que poderia ser importante para um estudo sobre os antigos compositores da cidade de Ribeirão Preto.
Com devida autorização para manusear o material, encontrei um depósito com papéis amontoados em caixas de papelão distribuídos em três pequenas salas escuras e úmidas. Observei que nenhum estudo rigoroso foi feito sobre a história da OSRP e que contava com um alto número de fontes manuscritas das partituras utilizadas por ela no início de suas atividades, além de fotos, vídeos, recortes de jornais, programas de concertos e instrumentos, localizados em outras salas da sede.
A primeira providência foi a de retirar o material das salas úmidas para ventilação, depois o separei em partes de acordo com as seguintes características: compositores de Ribeirão Preto, compositores brasileiros, compositores estrangeiros e materiais supostamente anteriores à fundação da orquestra. Verifiquei que foram feitos com freqüência arranjos e adaptações a partir das edições estrangeiras, visando o tamanho da Orquestra. Tratei em seguida de encontrar partes perdidas da mesma música, pois algumas delas estavam em pacotes amarrados com barbantes, assim como quem embrulha um presente com fita, mas a maioria estavam soltas e foram misturadas com o tempo. Fiquei neste estágio do trabalho, passando depois a limpar com pincel seco todas as páginas dos manuscritos dos compositores de Ribeirão Preto e dos arranjos dos compositores nacionais como prioridade. Retirei os barbantes, grampos e clipes enferrujados e coloquei em embalagens plásticas transparentes para que não se misturassem novamente.
Dois anos depois, no início de 2008, por ocasião das festividades dos 70 anos da OSRP, sua assessoria de imprensa necessitava de dados históricos para a divulgação do concerto comemorativo e de outros eventos que seriam realizados durante o ano. No mês de março começou a ser publicada mensalmente a Revista Movimento Vivace, como veículo oficial de divulgação da OSRP e, desde então, escrevo textos sobre seu Arquivo Histórico. Em junho do mesmo ano, fui contratada como funcionária da OSRP para continuar o trabalho que havia começado; cuidar do arquivo, mas com dia e horário definido e acesso irrestrito ao acervo. Em novembro, fui convidada a participar do I Encontro de Centros de Documentação e Memória de Ribeirão Preto e Região, realizado pelo SESC, Fundação Theatro Pedro II e USP-RP, representando o Arquivo. Resolvi não estudar os compositores de Ribeirão Preto em específico, mas procurar um início para o estudo da história da Orquestra e de seu Arquivo. Para tema deste trabalho escolhemos os termos “Representações e Significado Social” a propósito do interesse do valor social da Orquestra; considerando a atenção que ela recebe de seu público, que participou de sua fundação e a mantém até hoje, e do poder simbólico e ideologias estabelecidos entre esta sociedade e a OSRP.
A dissertação de mestrado “Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto: Representações e Significado Social” é encontrada na íntegra através do endereço eletrônico:
O Arquivo Histórico da OSRP está organizando seu acervo documental para garantir a preservação e o conhecimento da história da OSRP e da história da música de Ribeirão Preto. Contamos com a colaboração da população para que doem programas de concertos, partituras, jornais, instrumentos, fotos ou vídeos que possam ser importantes para a história musical de nossa cidade. Entre em contato pelo telefone 36108932 ou venha até a sede da OSRP na Rua São Sebastião, 1002. Centro – Ribeirão Preto/SP.

Gisele Haddad

arquivohistorico@osrp.org.br

Publicado na Revista Movimento Vivace Ano IV nº 30 março de 2011.

A Imprensa se Manifesta...

Transcrição de capítulo extraído do Livro “50 anos de Orquestra Sinfônica em Ribeirão Preto 1938 – 1988” da memorialista Myrian de Souza Strambi


O sucesso do primeiro concerto da ORQUESTRA SINFÔNICA DE RIBEIRÃO PRETO foi amplamente divulgado pela imprensa local, principalmente, porque o TEATRO PEDRO II ficou totalmente lotado, fato este raríssimo nos meios artísticos da cidade.
O “DIÁRIO DA MANHÔ, de 23 de setembro de 1938, em artigo intitulado “A PRIMEIRA EXIBIÇÃO DA SOCIEDADE MUSICAL”, comentava:
“Assim o primeiro concerto da Orchestra Symphonica da Sociedade Musical de Ribeirão Preto, assegurou-lhe uma existência vitoriosa, cujos louros irão sedo colhidos em sucessivas apresentações. Também individualmente merecem os maiores elogios, todos os integrantes da orquestra, elogios que se tornam maiores para o seu regente, o conhecido e competente MAESTRO ANTÔNIO GIAMMARUSTI e para o spalla da orquestra, o conhecido VIOLINISTA JOSÉ GUMERATO”.
O jornal “A TARDE” noticiava em seu artigo “A SOCIEDADE MUSICAL DE RIBEIRÃO PRETO DEU HONTEM O SEU PRIMEIRO CONCERTO”: “a orquestra sob a regência do competentíssimo ANTONIO GIAMMARUSTI, saiu-se muito bem. Tocou admiravelmente, dando às sinfonias do Compositor Campineiro, uma interpretação equilibrada, porque natural e sem exagero instrumental”.
“O INÍCIO AUSPICIOSO DE UMA NOVA PHASE”, matéria de “O DIÁRIO DA MANHÔ, de 24 de setembro de 1938, dizia: “Quando afirmamos que, havendo iniciativa, o nosso povo saberia corresponder dando o seu apoio, tínhamos também toda razão. Foi o que nós constatamos anteontem, no Festival do Teatro Pedro II. Tanto a platéia como as galerias estavam com a sua lotação quase tomadas, e durante o transcorrer do programa, cada número concluído magistralmente pela orquestra, estrugiam os aplausos. Foi portanto, uma verdadeira apoteose à Música aquela noitada, em que o sempre imortal Carlos Gomes recebeu do nosso povo uma grande homenagem, talves a maior que se já lhe prestou nessa cidade. Resta agora, que a SOCIEDADE MUSICAL continue o seu trabalho, oferecendo sempre festivais com o que nos proporcionou na sua estréia”.
O jornal “A CIDADE”, de 24 de setembro de 1938, noticia em destaque “UM ESPETÁCULO VIBRANTE”. “Constituiu um acontecimento de alto relevo para os nossos meios artísticos e sociais, o primeiro concerto sinfônico realizado ante-ontem, no Teatro Pedro II, pela SOCIEDADE MUSICAL DE RIBEIRÃO PRETO”. E conclui: “A CIDADE felicita o Maestro ANTONIO GIAMMARUSTI e também Ribeirão Preto pelo grande acontecimento artístico”.
O jornal “A TARDE”, de 24 de setembro de 1938, no final de um comentário crítico-musical, escrito por Raul Laranjeira, violinista que também atuou na estréia diz: “Sirvam estas palavras autorizadas, porque são de um profundo conhecedor de arte, de estímulo dos que tomaram a si a responsabilidade de manter a SOCIEDADE MUSICAL DE RIBEIRÃO PRETO sempre ativa, de impulsão na tarefa a tornarem em breve, um “PADRÃO DE HONRA” para nossa cidade”.
“Depois de uma pausa que durou vários anos, a sociedade de Ribeirão Preto teve o prazer de apreciar novamente uma noitada verdadeiramente artística com o CONCERO INAUGURAL DA SOCIEDADE MUSICAL DE RIBEIRÃO PRETO, ultimamente fundada e da qual, em correspondência anterior já demos notícia ...”
Esta matéria foi divulgada pelo jornal “A FOLHA DA MANHÔ DE São Paulo, no dia 29 de setembro de 1938, enviada pela sucursal de nossa cidade, que finalizava: “Está pois de parabéns a nossa população com o aparecimento de mais uma entidade artística e fazemos votos para que também o nosso povo corresponda à expectativa, cooperando no progresso da SOCIEDADE MUSICAL DE RIBEIRÃO PRETO”.
Em 1º de outubro de 1938, foi publicado na imprensa local, um agradecimento a todos os jornais que dizia: “à imprensa de Ribeirão Preto em gera, devemos uma grande parte de nossa vitória artística, fato este que registramos aqui, com grande satisfação, porque ele prova que “A TARDE”, como também os outros diários, de fato pugnam pelo desenvolvimento do gosto artístico em nossa cidade. Continuamos a contar com o grande apoio e desinteressado auxílio deste conceituoso jornal e mais uma vez, apresentamo-lhes os nossos maiores agradecimentos. Sem mais, somos de estima e apreço de V. S. Pela Sociedade Musical de Ribeirão Preto – MAX BARTSCH – Presidente, FRANCISCO DE BIASE – Secrretário”.


Gisele Haddad

arquivohistorico@osrp.org.br

Publicado na Revista Movimento Vivace Ano III nº 29 dezembro de 2010.

Pessoas de diversas classes sociais difundem a música em Ribeirão Preto

Transcrição do Jornal “Diário da Manhã” de 9/6/1957 constante do Arquivo Pessoal Manoel da Silva. Reportagem de Moacir Bernardes.










A Orquestra Sinfônica
(...) Uma orquestra sinfônica não se improvisa, daí as grandes dificuldades dos idealizadores da Sociedade Musical de Ribeirão Preto, cujo principal fim seria a organização de uma orquestra para a difusão da música clássica. Houve necessidade de moldar elementos, estabelecer disciplina, programas de estudos e ensaios continuados. Finalmente, no dia 22 de setembro de 1938, no Theatro Pedro II, a Sociedade Musical de Ribeirão Preto apresentou ao público a Orquestra Sinfônica, executando um programa, ainda em homenagem a Carlos Gomes, o inspirador do movimento artístico. Noite de gala a qual compareceram as mais altas autoridades locais e a senhora Joaquina Gomes, “nhá” Quina, irmã de Carlos Gomes. Regeu a orquestra o maestro Antonio Giammarusti, com o concurso de Raul Laranjeira. O programa daquela noite constou do seguinte: Abertura do espetáculo com o discurso do senhor Joaquim Camilo de Mattos, prefeito municipal, seguindo-se a execução pela orquestra de: “Fosca”, sinfonia de Carlos Gomes; “Ma Belle qui Danse” de Von Westerhout; “Maria Tudor”, sinfonia de Carlos Gomes; “Minueto em Si Bemol” de Bocherini;  “Salvador Rosa”, ouverture da Opera de Carlos Gomes; “Preludio” da Opera “Lo Schiavo” de Carlos Gomes; “Momento Musical para cordas de Schubert, e finalmente “O Guarani”, sinfonia de Carlos Gomes.
Dizem pessoas que assistiram ao espetáculo que ele constituiu uma verdadeira consagração e entusiasmou a todos, garantindo o êxito da iniciativa. Músicos profissionais ao lado de médicos, dentistas, funcionários públicos, artífices, marceneiros, sapateiros, comerciários, estudantes, quantos tocavam um instrumento e tinham conhecimento musical persistiram nos ensaios e na organização definitiva da Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto.
Tudo deu certo, cada um deixou seus afazeres profissionais umas tantas horas por dia para dedicar-se à música. Desde então, de acordo com os estatutos da Sociedade Musical, a Orquestra Sinfônica apresentou regularmente, bimestralmente, um concerto sinfônico. Até hoje muitos dos músicos que tomaram parte na memorável noite inaugural de gala continuaram ocupando o seu lugar na orquestra e participando dos concertos sem registrar uma falta. Muitos são pobres, mas nada receberam pela sua participação, até pelo contrário, se necessário contribuem com o que podem. Aliás, no início cada músico pagava a mensalidade de dois cruzeiros para fazer parte da Orquestra Sinfônica. (...)

Dificuldades
Outro incansável mantenedor da orquestra é o sr. Edmundo Russomanno, um dos seus fundadores e clarinetista do conjunto. Entusiasta como é, por várias vezes, pegou a batuta para dirigir concertos e para que os estatutos da entidade fossem cumpridos. Disse-nos ele que a Sociedade Musical tem lutado e vencido inúmeras adversidades. Quando há falta de recursos, diretores, sócios e os próprios músicos se cotizam e superam as dificuldades. Atualmente a entidade recebe uma subvenção da Prefeitura Municipal e conseguiu reunir certa importância com a qual espera atingir um de seus objetivos: a construção da Casa da Música que seria a sede social da Sociedade Musical de Ribeirão Preto.


Gisele Haddad

arquivohistorico@osrp.org.br

Publicado na Revista Movimento Vivace Ano III n º 28 outubro de 2010.

Sociedade Musical Orchestra Symphonica de Ribeirão Preto


“A OSRP nasceu de um punhado de homens idealistas, para afirmar de público que um monumento seria erigido nesta cidade, em homenagem à música. E esse movimento sintetizaria o símbolo da harmonia reinante no seio da classe musicista que, sem viver em dispersão, trabalharia em benefício da Arte Musical, difundindo pela sua orquestra sinfônica a boa música, no sentido do aprimoramento cultural do povo”. (parágrafo da primeira página do estatuto de funcionamento da Sociedade Musical de Ribeirão Preto 1938)





A história da OSRP está intimamente ligada a fatores políticos, econômicos e sociais do Brasil e do mundo. Compreendemos que questões como a imigração italiana em Ribeirão Preto e suas influências; a formação da aristocracia cafeeira e suas modificações nos hábitos sociais influenciados pela Belle Époque foram determinantes para a existência de sociedades sinfônicas desde a década de 1920. A inauguração da emissora de rádio local, em 1924, proporcionou a ampliação do movimento musical e seu consumo e muitos conjuntos musicais passaram a existir para suprir a necessidade da programação da rádio e das atividades musicais dos entretenimentos noturnos. As sociedades musicais desta época tinham a função de proporcionar a manifestação da música européia, agregando as pessoas de ricas classes sociais e os músicos, que geralmente não tinham esta profissão como a principal para o seu sustento, mas eram cúmplices, valorizavam e tinham por objetivo reproduzir uma parte do ambiente aristocrático que existia no Rio de Janeiro e São Paulo, que se espelhava nas realizações artísticas européias.
A economia de Ribeirão Preto, dependente do meio rural, teve na aristocracia seu domínio político que acompanhava a evolução do mundo moderno. O novo tempo, o “melhor” tempo, a modernidade e a tecnologia passaram a ser símbolo do viver aristocrático; são os interesses particulares que distinguem a classe economicamente dominante dos membros de outras classes.
O confronto das informações históricas sobre a OSRP e sobre as sociedades musicais - principalmente as cariocas - do final do século XIX e início do século XX também confirma a aristocracia como a principal patrocinadora das atividades sinfônicas, assim como aconteceu em Ribeirão Preto através da OSRP. A organização dos sócios, na grande maioria das sociedades, era a mesma empregada até hoje na OSRP, como demonstrada desde seu primeiro estatuto de funcionamento: sócios beneméritos - que contribuem com valores significativos em dinheiro, são considerados patronos e não pagam taxas; sócios honorários - músicos profissionais ou fundadores da instituição, que também não pagavam taxas; sócios contribuintes - que contribuem com parcelas mensais e sócios participativos - geralmente músicos amadores ou outro funcionário da Sociedade.
Também dentro das distinções acima, averiguamos que a OSRP existe e sempre foi mantida pelo seu significado social: representa a aristocracia e a condiciona dentro do seu poder simbólico. É instrumento de legitimação da sua sociedade, uma vez que proporciona a música de qualidade, a erudita, e coloca, por meio de seus concertos, separações entre os que dela fazem parte e os que não estão inclusos entre músicos, funcionários e sócios, sendo estes os detentores da cultura da elite, pertencendo ou não ao mesmo nível financeiro e social.
Pelo controle da opinião sobre o que é a música de qualidade, das participações dos concertos ou o simples fato de ser sócio, apesar de não participar ativamente da movimentação da Sociedade Musical, é exercida a dominação dos intelectuais sobre os que não têm acesso ao conhecimento, dos ricos sobre os pobres, dos mais sobre os menos favorecidos. Este significado expressa a legitimação pelo conhecimento, um disfarce empregado em hábitos durante a prática dos concertos, nos quais se reitera a apropriação do bem simbólico “orquestra”, impondo-a.
Para o início das atividades da OSRP, em 1938, e sua continuação, muitos trabalharam e literalmente pagaram para que a sua existência fosse efetiva, mas dois nomes são evidenciados pela figura de liderança, administrativa e musical, respectivamente: Max Bartsch e Ignázio Stábile, liderança esta também exercida nas atividades musicais da cidade anteriores à formação da Sociedade Musical de Ribeirão Preto, mantenedora da OSRP.


Gisele Haddad

arquivohistorico@osrp.org.br

Publicado na Revista Movimento Vivace Ano III nº 27 Setembro de 2010.

Os ideaes da Symphonica

Todas as energias bem empregadas, todos os esforços bem dirigidos, produzem forçosamente resultados benéficos. Haja visto o que tem acontecido com a ascensão da Sociedade Musical de Ribeirão Preto.
Em menos de dois annos de vida, é uma sociedade respeitável, de cujo concurso a nossa cidade não pode mais prescindir.
Em outros tempos, existiu a Sociedade Cultura Artística, com a sua symphonica, mas por motivos vários desappareceu. A sua vida foi ephemera como ephemera é a vida dos meteoros.
Há dois annos quase, alguns idealistas fundaram a Sociedade Musical de Ribeirão Preto e desde então numa ascensão soberba, com homens à sua frente que sabem querer, vem realizando – em nosso meio e toda a região – uma obra de alta finalidade artística, diffundindo a boa musica e educando o povo.
Reconhecendo o valor intrínseco da nossa symphonica os poderes públicos têm sabido premiar o esforço dos que dirigem a Sociedade Musical de Ribeirão Preto a qual, no dizer de Max Bartsch – não é propriedade de ninguém, mas uma agremiação que se acha incorporada ao patrimônio da cidade, como uma jóia de rara beleza e valor.
Agora que a Musical é subvencionada pelos governos municipal e federal e, possivelmente, o será também pelo governo estadoal – pensa-se realizar os justos ideaes da synphonica.
Entretanto, é aconselhável que a marcha seja devagar, como até aqui, mas com segurança.. Dar um passo à frente e não mais retroceder. Quem vai com muita fúria ao pote, diz o adágio popular, pode quebra-lo...
A Musical – é preciso que se diga – é uma associação de idealistas e de abnegados. Doutra forma não se comprehenderia essa espécie de cooperativismo que alli reina. Cada qual trabalha na sua esphera, e todos fazem força sem visar o bem pessoal, mas unicamente o fim collectivo.

lll

O anno de 1940 será de grandes realizações, segundo soubemos. Pensa-se em muita cousa útil e interessante. Há quem se lembre de dotar aos músicos de assistência medico-hospitalar – medida de grande alcance – mas não sabemos se a sociedade já estaria em condições de realizar uma obra de tamanho alcance. Benefícios dessa natureza poderiam tirar da apatia muitos músicos que poderiam vir a engrossar as fileiras da Musical.
Fala-se no intercambio com os centros cultos, problema esse que de há muito vem preocupando os dirigentes mas que não tem sido posto em prática justamente por falta de “conquibus sonantibus”... Será uma grande conquista se a Musica puder trazer “virtuoses” (solistas) para figurarem em próximos concertos da nossa Symphonica, ou convidar maestros de grande projeção no Paiz.
Bem entendido atrahir maestros de grande nome – porque para o “gasto” temos aqui os nossos que são competentíssimos e não precisamos de melhor.
Poder-se-ia pensar em trazer o grande Mignone, o illustre Souza Lima, Burle-Marx, e outros do mesmo naipe, cujos nomes – no momento que escrevo – não me acodem ao pensamento.

lll

A Musical, segundo soubemos, pensa também  no anno em curso  dar concertos populares, a preços reduzidíssimos em beneficio de  casas de caridade, contribuindo dessa forma para fins humanitários.
E eu me lembro destas colunnas – a ampliação do seu intrumental, com a acquisição de harpa, piano e outros instrumentos de que tanto ressente.
E que não falte à Sociedade Musical de Ribeirão Preto o apoio que o publico tem sabido lhe emprestar, especialmente, no augmento do numero de seus associados. Cada sócio deveria angariar pelo menos um outro contribuinte, e teríamos assim, assegurado a realização dos grandes ideaes da Synphonica.
Mario C. DELIA
Jornal “Diário da Manhã"
 21/01/1940


Gisele Haddad

arquivohistorico@osrp.org.br

Publicado na Revista Movimento Vivace Ano III nº 26 agosto de 2010.