Todas as energias bem empregadas, todos os esforços bem dirigidos, produzem forçosamente resultados benéficos. Haja visto o que tem acontecido com a ascensão da Sociedade Musical de Ribeirão Preto.
Em menos de dois annos de vida, é uma sociedade respeitável, de cujo concurso a nossa cidade não pode mais prescindir.
Em outros tempos, existiu a Sociedade Cultura Artística, com a sua symphonica, mas por motivos vários desappareceu. A sua vida foi ephemera como ephemera é a vida dos meteoros.
Há dois annos quase, alguns idealistas fundaram a Sociedade Musical de Ribeirão Preto e desde então numa ascensão soberba, com homens à sua frente que sabem querer, vem realizando – em nosso meio e toda a região – uma obra de alta finalidade artística, diffundindo a boa musica e educando o povo.
Reconhecendo o valor intrínseco da nossa symphonica os poderes públicos têm sabido premiar o esforço dos que dirigem a Sociedade Musical de Ribeirão Preto a qual, no dizer de Max Bartsch – não é propriedade de ninguém, mas uma agremiação que se acha incorporada ao patrimônio da cidade, como uma jóia de rara beleza e valor.
Agora que a Musical é subvencionada pelos governos municipal e federal e, possivelmente, o será também pelo governo estadoal – pensa-se realizar os justos ideaes da synphonica.
Entretanto, é aconselhável que a marcha seja devagar, como até aqui, mas com segurança.. Dar um passo à frente e não mais retroceder. Quem vai com muita fúria ao pote, diz o adágio popular, pode quebra-lo...
A Musical – é preciso que se diga – é uma associação de idealistas e de abnegados. Doutra forma não se comprehenderia essa espécie de cooperativismo que alli reina. Cada qual trabalha na sua esphera, e todos fazem força sem visar o bem pessoal, mas unicamente o fim collectivo.
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O anno de 1940 será de grandes realizações, segundo soubemos. Pensa-se em muita cousa útil e interessante. Há quem se lembre de dotar aos músicos de assistência medico-hospitalar – medida de grande alcance – mas não sabemos se a sociedade já estaria em condições de realizar uma obra de tamanho alcance. Benefícios dessa natureza poderiam tirar da apatia muitos músicos que poderiam vir a engrossar as fileiras da Musical.
Fala-se no intercambio com os centros cultos, problema esse que de há muito vem preocupando os dirigentes mas que não tem sido posto em prática justamente por falta de “conquibus sonantibus”... Será uma grande conquista se a Musica puder trazer “virtuoses” (solistas) para figurarem em próximos concertos da nossa Symphonica, ou convidar maestros de grande projeção no Paiz.
Bem entendido atrahir maestros de grande nome – porque para o “gasto” temos aqui os nossos que são competentíssimos e não precisamos de melhor.
Poder-se-ia pensar em trazer o grande Mignone, o illustre Souza Lima, Burle-Marx, e outros do mesmo naipe, cujos nomes – no momento que escrevo – não me acodem ao pensamento.
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A Musical, segundo soubemos, pensa também no anno em curso dar concertos populares, a preços reduzidíssimos em beneficio de casas de caridade, contribuindo dessa forma para fins humanitários.
E eu me lembro destas colunnas – a ampliação do seu intrumental, com a acquisição de harpa, piano e outros instrumentos de que tanto ressente.
E que não falte à Sociedade Musical de Ribeirão Preto o apoio que o publico tem sabido lhe emprestar, especialmente, no augmento do numero de seus associados. Cada sócio deveria angariar pelo menos um outro contribuinte, e teríamos assim, assegurado a realização dos grandes ideaes da Synphonica.
Mario C. DELIA
Jornal “Diário da Manhã"
21/01/1940
Gisele Haddad
arquivohistorico@osrp.org.br
Publicado na Revista Movimento Vivace Ano III nº 26 agosto de 2010.