Em 1950, Ribeirão Preto recebeu a menina italiana Giannella di Marco para reger a OSRP. Com apenas 5 anos de idade, sua precocidade e genialidade eram definidos pela imprensa mundial. Assim consta no programa de concerto da OSRP do dia 14 de julho de 1950: “Giannella é uma garotinha de 5 anos apenas, que comanda a orquestra e dela obtém efeitos que, por vezes, pretenciosos diretores, bracejando como epileptoides, não obtêm. Dirigiu a Orquestra Sinfônica de Roma como gente grande e triunfou plenamente. O que ultrapassa os limites comuns do que é humano, é que uma criaturinha que apenas teve tempo para aprender a falar, dirija uma orquestra sinfônica importantíssima e com absoluta precisão e em obras com envergadura como sejam as de Mozart, Rossini, Grieg e Wagner desde, nada menos que a Abertura Tannhauser”. Imprensa da Itália, Roma.
“Logo que levantou a batuta, os noventa professores da Orquestra Sinfônica de Madrid responderam à pequena e, no entanto, grande diretora que comunicava a violinos e cellos, a madeiras e metais, o sopro comovido de um sentimento partindo de uma arte perfeitamente concebida e meditada. Giannella di Marco, um anjo ruivo de cinco anos, é simplesmente uma prodígio”. Imprensa da Espanha, Madri.
Capa do Programa de Concerto da OSRP sob a regência de Gianella di Marco. Fonte: Arquivo Histórico da OSRP. |
“Dotada de uma memória prodigiosa, de uma vida interior que ultrapassa os limites de seus tenros anos, a pequena Giannella com batuta firme e com gestos e acenos expressivos, foi conduzindo a grande orquestra de 98 instrumentistas do Teatro Colon com ductilidade e, porque não o dizer, também com maestria, e, até com sutileza, através dos diversos e variados estilos das obras que constituíam o programa. O concerto alcançou um relevo de exceção, pois que a precoce regente pôs em evidência seus extraordinários dotes, ao interpretar com justeza, clareza e cabal senso musical as diversas e não fáceis obras que constituíam o programa extenso”. Imprensa da Argentina, Buenos Aires.
“Todas as teorias, todas as investigações, todas as especulações dialéticas, estavam diante da segurança rítmica, da precisão de indicações quanto ao colorido, à incrível perfeição dos movimentos que a pequena, no entanto, desmedidamente grande animadora do concerto demonstrava a cada novo número do programa. Incrédulos no tocante ao valor da direção volitiva de Giannella di Marco, não me foi possível encontrar somente uma obstinada e persistente negação da evidência mais flagrante teria podido empanar a luminosa sinceridade da esmagadora força de interpretação que se desprendia daquele ser delicado, percorrendo por nervos em excepcional vibração”. – Do Diário da Noite. Imprensa do Brasil, Rio de Janeiro.
Capa do Programa da Ópera La Traviata, de Verdi. Fonte: Arquivo Histórico da OSRP. |
Após nove anos, em 1959, a LIRA-SCALA de Roma-Intercâmbio Cultural Itália-Brasil, em colaboração com o Maestro Enrico Ziffer, maestro da OSRP, realizou em Ribeirão Preto a apresentação da ópera La Traviata de Verdi sob a regência de Gianella, então com 14 anos. Nesta apresentação também participou o Coral de Ribeirão Preto, com 33 vozes, organizado por D. Júlia Corsini Monteiro de Barros.
Não existem notícias atuais sobre Giannella. Procurando na internet, encontramos seu nome como referência a superdotados e crianças prodígio, além de informações sobre apresentações em 1950, no Rio Grande do Sul, Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo, e uma reportagem do Times Magazine informando sobre sua passagem pela Inglaterra em 1953, onde realizou sua 123º apresentação.
Alguns acontecimentos podem certamente ser lembrados pelos cidadãos de Ribeirão Preto, que presenciaram a atuação de Giannella di Marco com a OSRP na década de 1950 e, para eles, perguntamos: quem patrocinou sua vinda para cá, onde ela se hospedou, quem a acompanhou nas viagens, como foram feitos os ensaios, como foi a recepção do público, onde estará Giannella?
Gianella di Marco agradece os aplausos. Fonte: Arquivo Histórico da OSRP. |
Gianella di Marco e o Maestro Ignázio Stábile, em 1950. Fonte: Arquivo Histórico da OSRP. |
Gisele Haddad
arquivohistorico@osrp.org.br
Artigo Publicado na Revista Movimento Vivace Ano II nº15 junho de 2009
Informações enviadas ao e-mail arquivohistorico@osrp.org.br
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Prezada
srta. ou sra. Gisele:
Meu
nome é MÍLTON THEODORO GUIMARÃES. Sou Desembargador (aposentado) do
E.Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. Resido em Cotia (SP).
No
dia 24 de julho deste ano (2012), estava eu
almoçando em casa (de meu filho Milton) e recordando coisas de um passado longínquo
quando, falando em assunto de música, que muito me apaixona, desde tenra idade, porque
nasci em uma família que muito a cultivava (tenho composições registradas e,hoje,
toco, raríssimamente , piano e órgão, mas apenas de ouvido ), me referi ao maestro
ITALO IZZO,
que
regia orquestras na antiga Rádio Record, no Teatro Municipal e, tempos
depois, na TV
Tupi, canal 3, primeiro canal de televisão do Brasil, do qual era ele
Diretor Musical.
ITALO
era, por sinal, irmão do célebre organista do Colégio São Bento,
MIGUEL IZZO. Pois
bem: ITALO era casado com Dulce, prima, em segundo grau, do meu pai
e, por isso, frequentava
minha casa, quase que todas as noites, quando ia buscá-la,
após os espetáculos,
ocasiões em que nos deleitava com suas fabulosas e arrepiantes execuções
pianis
ticas.
Tinha-se formado no Conservatório da Itália com medalha de ouro.
Nessa
condição, ITALO sempre nos proporcionava audições
incríveis,
não só possibilitando-nos
assistir a vários concertos, bailados, na Rádio, na Televisão
e no Municipal,
como
também levando para nossa casa célebres personalidades do mundo musical
e artístico
(cantores, pianistas, violonistas, humoristas e até mesmo recitadores).
De
minha família também faziam parte vários músicos (minha avó,professora
de piano, minha
mãe formada no Conservatório Musical e professora de piano, meu
tio violinista, meu
outro tio pianista, meu outro tio violoncelista, primas de minha mãe,
todas pianistas,
uma delas concertista internacional, primos dela cantores do Municipal,
e assim por
diante. Eram recitais periódicos que varavam a noite. Áureos tempos
que não voltam mais
!
Numa
dessas feitas, ITALO nos convidou para irmos à casa dele, num fim
de semana, a fim de
conhecermos a genial maestrina em epígrafe. Eu contava cerca de 15 anos
de idade e ela,
9. Gianella repassava com ITALO alguns trechos do Guarani, em que ela
tinha mais dificuldade.
Num dos intervalos, me acerquei dela, coloquei-a no meu colo
e tentei dar umas
palavrinhas em italiano, com o pouquinho que eu ouvira do ITALO ao
conversar com ela
ou com outros artistas italianos e com a pessoa que a acompanhava, que
me disseram ser
o empresário, responsável e pai dela.
Nunca
me esqueci do detalhe: ao responder a uma pergunta dela, ela me corrigiu:
Não se
diz " percuê " ; é " perquê " ! Eu tinha errado na
pronúncia de "
perchê ".
Daí
haver ocorrido a minha "filhinha" CLEIDE (nora), procurar, na Internet,
alguma noticia
sobre Gianella, já que eu nunca mais ouvira dizer que fim levou tal
celebridade.
Foi
quando, no Google, leu um comentário sobre ela, escrito (em http://www.vivaocharque.com.br/interativo/artigo07.htm) por ROBERTO M. PERELLO a
quem CLEIDE dirigiu o e-mail em tela (abaixo), a título de colaboração e adição
de informes, cuja publicação
autorizo e por cuja veracidade me responsabilizo, sob a fé
de meu grau de magistrado.
Atenciosamente,
MÍLTON
Caro senhor Roberto M. Perello:
Relembrando
fatos do meu longínquo passado, lembrei-me de contar a meus filhos Milton e
Cleide algo que se passou no ano de 1950, quando eu era um jovem filho de um
casal primo de um grande maestro da ocasião, ou seja, maestro ÍTALO IZZO, então
diretor musical do futuro canal 3 – TV TUPI de São Paulo – o caro amigo sabe
que a televisão foi inaugurada no Brasil e em São Paulo através desse canal e
exatamente nesse ano. Pois bem. Pouco antes ou pouco depois desse evento,
surgiu no Brasil e, particularmente em São Paulo, a celebérrima Giannella de
Marco, criança que, com apenas 9 anos de idade, era um gênio e um fenômeno que
havia vindo para reger nossa orquestra sinfônica, no Teatro Municipal local. Um
dos regentes dessa orquestra era, exatamente, o supracitado maestro ÍTALO IZZO,
a quem os pais e empresários da referida maestrina procuraram para que ela
fosse orientada no conhecimento e na regência da nossa ÓPERA “O GUARANI”, de
Carlos Gomes.
Em determinada tarde de um fim de
semana, Giannella se dirigiu a residência desse nosso primo e ali estudou com
ele várias passagens da “ouverture” dessa obra, estando Ítalo ao
piano e Giannella, de pé numa cadeira de madeira da copa, treinando a
respectiva regência, sendo que, de quando em quando, Ítalo interrompia o toque
para explicar a ela alguma passagem mais difícil.
Nessa oportunidade, eu contava 15 anos
de idade e me lembro, perfeitamente, quando Giannella, sentada ao meu colo, me
corrigia a pronúncia das palavras “per que” , que eu falava errado.
Isto se passou na Rua Tanabi, nº162,
esquina com a Rua Desembargador Guimarães, Vila Pompéia, nas proximidades do
Parque da Água Branca.
Poucos dias depois, Ítalo nos contava,
lá em casa, que era impressionante o fato de que, nos treinos
da orquesta, Giannella chegava a corrigir alguns músicos, mostrando que eles
estavam tocando uma ou outra nota errada da música. E o pior, dizia ele, é que
os músicos estavam, mesmo errando, naquele pontos indicados por Giannella.
Passados alguns dias, fomos todos
assistir o aludido concerto no Teatro Municipal de São Paulo, onde Giannella,
efetivamente, arrancou lágrimas de emoção do povo assistente e foi aplaudida,
efusivamente.
Espero que estes registros possam
contribuir com seus conhecimentos a respeito da saudosa Giannella,
que, através dos seus comentários e de correspondências sitas na internet,
fiquei sabendo haver falecido recentemente, pois, desde então nunca mais soube
que fim levara a nossa fenomenal criatura.
Cotia, 24 de Julho de 2012
Milton Theodoro Guimarães