7 de agosto de 2011

Sociedade Musical Orchestra Symphonica de Ribeirão Preto


“A OSRP nasceu de um punhado de homens idealistas, para afirmar de público que um monumento seria erigido nesta cidade, em homenagem à música. E esse movimento sintetizaria o símbolo da harmonia reinante no seio da classe musicista que, sem viver em dispersão, trabalharia em benefício da Arte Musical, difundindo pela sua orquestra sinfônica a boa música, no sentido do aprimoramento cultural do povo”. (parágrafo da primeira página do estatuto de funcionamento da Sociedade Musical de Ribeirão Preto 1938)





A história da OSRP está intimamente ligada a fatores políticos, econômicos e sociais do Brasil e do mundo. Compreendemos que questões como a imigração italiana em Ribeirão Preto e suas influências; a formação da aristocracia cafeeira e suas modificações nos hábitos sociais influenciados pela Belle Époque foram determinantes para a existência de sociedades sinfônicas desde a década de 1920. A inauguração da emissora de rádio local, em 1924, proporcionou a ampliação do movimento musical e seu consumo e muitos conjuntos musicais passaram a existir para suprir a necessidade da programação da rádio e das atividades musicais dos entretenimentos noturnos. As sociedades musicais desta época tinham a função de proporcionar a manifestação da música européia, agregando as pessoas de ricas classes sociais e os músicos, que geralmente não tinham esta profissão como a principal para o seu sustento, mas eram cúmplices, valorizavam e tinham por objetivo reproduzir uma parte do ambiente aristocrático que existia no Rio de Janeiro e São Paulo, que se espelhava nas realizações artísticas européias.
A economia de Ribeirão Preto, dependente do meio rural, teve na aristocracia seu domínio político que acompanhava a evolução do mundo moderno. O novo tempo, o “melhor” tempo, a modernidade e a tecnologia passaram a ser símbolo do viver aristocrático; são os interesses particulares que distinguem a classe economicamente dominante dos membros de outras classes.
O confronto das informações históricas sobre a OSRP e sobre as sociedades musicais - principalmente as cariocas - do final do século XIX e início do século XX também confirma a aristocracia como a principal patrocinadora das atividades sinfônicas, assim como aconteceu em Ribeirão Preto através da OSRP. A organização dos sócios, na grande maioria das sociedades, era a mesma empregada até hoje na OSRP, como demonstrada desde seu primeiro estatuto de funcionamento: sócios beneméritos - que contribuem com valores significativos em dinheiro, são considerados patronos e não pagam taxas; sócios honorários - músicos profissionais ou fundadores da instituição, que também não pagavam taxas; sócios contribuintes - que contribuem com parcelas mensais e sócios participativos - geralmente músicos amadores ou outro funcionário da Sociedade.
Também dentro das distinções acima, averiguamos que a OSRP existe e sempre foi mantida pelo seu significado social: representa a aristocracia e a condiciona dentro do seu poder simbólico. É instrumento de legitimação da sua sociedade, uma vez que proporciona a música de qualidade, a erudita, e coloca, por meio de seus concertos, separações entre os que dela fazem parte e os que não estão inclusos entre músicos, funcionários e sócios, sendo estes os detentores da cultura da elite, pertencendo ou não ao mesmo nível financeiro e social.
Pelo controle da opinião sobre o que é a música de qualidade, das participações dos concertos ou o simples fato de ser sócio, apesar de não participar ativamente da movimentação da Sociedade Musical, é exercida a dominação dos intelectuais sobre os que não têm acesso ao conhecimento, dos ricos sobre os pobres, dos mais sobre os menos favorecidos. Este significado expressa a legitimação pelo conhecimento, um disfarce empregado em hábitos durante a prática dos concertos, nos quais se reitera a apropriação do bem simbólico “orquestra”, impondo-a.
Para o início das atividades da OSRP, em 1938, e sua continuação, muitos trabalharam e literalmente pagaram para que a sua existência fosse efetiva, mas dois nomes são evidenciados pela figura de liderança, administrativa e musical, respectivamente: Max Bartsch e Ignázio Stábile, liderança esta também exercida nas atividades musicais da cidade anteriores à formação da Sociedade Musical de Ribeirão Preto, mantenedora da OSRP.


Gisele Haddad

arquivohistorico@osrp.org.br

Publicado na Revista Movimento Vivace Ano III nº 27 Setembro de 2010.