7 de agosto de 2011

História da sede da OSRP

Iniciamos, desde o mês de outubro de 2009, uma série de transcrições de antigos jornais de Ribeirão Preto (a partir da década de 1930), contidos no Arquivo Histórico da OSRP, com a finalidade de trazer para o conhecimento público, informações sobre a história da OSRP e da história da música de Ribeirão Preto.

Inaugurou-se hontem a sede social da Sociedade Musical de Ribeirão Preto, no Edifício Diederichsen. 


Verificou-se, na noite de hontem, a solennidade de inauguração da sede social da Sociedade Musical de Ribeirão Preto, instalada na sala 239 do Edifício Diederichsen. A inauguração da sede da entidade musical riberopretana constitue uma authentica e indiscutível Victoria, uma dessas victorias que não se restringem aos círculos da entidade.
Essa victoria é uma victoria de Ribeirão Preto, do povo riberopretano, que estará jubiloso ao ter conhecimento dessa inauguração. A Sociedade Musical de Ribeirão Preto é um patrimônio de nossa cidade, e sua missão elevada, nobre, educativa está sendo bem comprehendida pelos riberopretanos, que não lhe tem negado applausos e palavras de incentivo.
Grande número de pessoas compareceu à sala 239 do Edifício Diederichsen, onde está installada a sede da Sociedade Musical. Directores, componentes da grande orchestra symphonica, representantes da imprensa, convidados e demais pessoas gradas assistiram à inauguração.
O acto inaugural foi presidido pelo Sr. Max Bartsch, presidente da Sociedade Musical, tendo várias pessoas feito o uso da palavra, enaltecendo a finalidade da triunphante Sociedade.
Fizeram uso da palavra Dr. Onésio da Motta Cortez, em nome da imprensa, Gilberto Nóbrega, vice-presidente da Sociedade, Alex Simeck, em nome dos componentes da orquestra. Dr. Dário Guedes e Dr. Renato Camerini, director artístico da Sociedade sendo servido “chopps” às pessoas presentes. (Jornal “Diário da Manhã” de 4 de fevereiro de 1939).
Desde a sua fundação até fins de 1958, a Diretoria e a Orquestra Sinfônica da Sociedade Musical de Ribeirão Preto vagaram de porta em porta, conseguindo por gentileza de cidadãos ribeirãopretanos, um lugar para realizar suas reuniões e ensaios, pois até então não haviam conseguido adquirir uma sede própria.
As primeiras reuniões foram realizadas na residência de Max Bartsch, presidente da Sociedade, que era gerente da Cia. Antarctica Paulista, na rua Luís da cunha n. 2, e posteriormente em seu novo endereço, no n. 80 da mesma rua.
Muitas foram realizadas também na residência de Biase e de Edmunso Russomanno, que antes de tudo, eram idealistas e amigos de Max, lutando ao seu lado, pela sobrevivência da entidade musical, que cuidava com muito carinho.
A Orquestra Sinfônica já havia conseguido espaço para seus ensaios no sub-solo do Theatro Pedro II, pois contava com o apoio do Dr. João Alves Meira Júnior, entusiasta do projeto e presidente da Cia. Cervejaria Paulista, proprietária do local.
Com muito esforço por parte dos dirigentes, e já contando um considerável número e sócios, conseguiu a Sociedade Musical inaugurar sua própria sede social, que era apenas uma modesta sala, n. 252 do 2º andar, do Edifício Diederichsen, no dia 3 de fevereiro de 1939.
Foi uma vitória tanto para a Sociedade Musical, como para Ribeirão Preto, cuja população com interesse acompanhava o desenvolvimento de sua nova orquestra, dando-lhe apoio, incentivo e aplausos. (...)
A alegria da nova sede durou pouco, pois com o correr do tempo, as finanças tornaram-se escassas e o recurso financeiro para o aluguel tornou-se inviável.
As reuniões voltaram então a ser realizadas novamente na residência dos Diretores e locais gentilmente cedidos por várias entidades, que nunca negaram sua colaboração para a Orquestra.
Muitas aconteceram na Sociedade Legião Brasileira e nas dependências da Cia. Antarctica Paulista, e, inúmeras delas, na Sociedade de Socorros Mútuos e no Centro Médico, que oferecia sua sala de conferencias ou seu Salão de Estudos para que pudessem ser efetuadas.
A Orquestra Sinfônica também, após algum tempo, ensaiando no sub-solo do Theatro Pedro II, conseguiu ficar sem o seu espaço, vagando por toda a parte, realizando seu trabalho ora na residência de Edmundo Russomanno, ora na Sala de Recitais do Prof. Pedro de Miranda Macedo, muitas vezes no Conservatório Musical de Ribeirão Preto, com a permissão de sua diretora, Profª Diva Tarlá de Carvalho.
Tais fatos são facilmente comprovados, pois o “Diário de Notícias”, em edição de 16 de outubro de 1940, noticiava que a Sociedade Musical propunha uma programação para entrar numa fase de intensa atividade artística e social, determinando o item G: “Os amadores que quiserem fazer parte da Orquestra Sinfônica, com exceção de piano, poderão se dirigir por escrito ou pessoalmente à Sede da Sociedade Musical, das 13 às 17 horas, no Theatro Pedro II, 2ª andar, a fim de fazerem suas inscrições”.
Em 18 de junho de 1948, a Sociedade Musical, em séria crise financeira, lança o “Livro de Ouro dos Sócios Beneméritos” lendo-se na primeira página: “A Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto constitui justo título para esta cidade, sendo uma das únicas militantes no interior paulista. Nunca, no entanto, se fez nada para a Sinfônica e o seu futuro está agora ameaçado por grave crise econômica. O homem não vale tão só pela força, mas também pela sua realização no campo da arte, que é revelação de grandeza espiritual. Os que assinam este Livro de Ouro são considerados ”Sócios Patronos” da Orquestra Sinfônica para um exercício, cujos nomes constarão na suas programações. E a posteridade por certo lhes fará justiça”.
Na segunda página, assinatura única: “Sinhá Junqueira Cr 20.000,00 (vinte mil cruzeiros)”.
Este foi um dos motivos pelo qual Sinhá Junqueira, que sempre colaborou financeiramente, foi considerada Benemérita da Orquestra Sinfônica, sendo o seu nome citado em várias Diretorias da entidade. Entretanto, seu maior auxílio foi a doação quem fez em 1950, de um valioso terreno localizado à Avenida Francisco Junqueira, esquina com a rua Armando Salles, ao lado da Organização Marchesi, com cerca de 1.320 metros quadrados.
A doação foi feita por intermédio do Dr. Waldemar B. Pessoa, na ocasião, presidente da Fundação Sinhá Junqueira, a pedido de Edmundo Russomanno, regente da Banda Infantil do Educandário Quito Junqueira e seu amigo pessoal.
Por falta de recursos a Sede nunca foi construída, e a ata de reuniões do dia 22 de dezembro de 1954, registra a proposta do presidente da Sociedade, Edmundo Russomanno, de ser vendido o terreno à Fundação de Assistência Sinhá Junqueira, ou a quem ela designasse.
O preço julgado satisfatório foi de Cr 500.000,00, sendo aprovado por unanimidade por todos os membros presentes da Diretoria.
Não há documentação que comprove a data em que este imóvel foi vendido, mas a Ata da Assembleia Geral Extraordinária, realizada em 9 de maio de 1957, na Sociedade de Socorros Mútuos, teve como pauta do dia, autorizar a Diretoria a adquirir um prédio urbano para a sede Social da Entidade. (...)
A aquisição do imóvel situado à Rua São Sebastião nº 944 e 1002 (casas geminadas), foi efetuada em 20 de outubro de 1958, sendo a Escritura lavrada no 4º Cartório de Notas por Osvaldo Caneo, 4º Tabelião da Comarca de Ribeirão Preto, em 29 de outubro de 1958.
Na escritura, consta como Sede da Sociedade Musical um imóvel à Rua XI de Agosto n. 55, que na realidade nada mais era, do que a residência de Edmundo Russomanno.
Assim, graças ao terreno doado pela benemérita Sinhá Junqueira, que vendido possibilitou a aquisição da velha “casa dos Constantinos”, a Sociedade Musical, e portanto a Orquestra Sinfônica poderia vislumbrar sua futura Sede Própria, cessando assim sua sacrificada vida de nômade e sua peregrinação sem fim dos anos anteriores.
A velha “casa dos Constantinos” ficou ainda algum tempo ocupada pelos inquilinos que a locavam. Em fins de 1960 foi demolida, sendo iniciada a construção da futura Sede da Sociedade, que modesta, seria apenas um salão para ensaios e reuniões.
Novos favores foram solicitados, sendo o material necessário doado pelas firmas especializadas de Ribeirão Preto.
O engenheiro e a mão-de-obra para a construção foram cedidos pela Prefeitura Municipal, numa deferência especial ao prefeito, Cel. Alfredo Condeixa Filho.
Finalmente a Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto ocupava sua própria casa, estando registrado em Ata, em 22 de janeiro de 1963, a primeira reunião da Diretoria ali realizada. (trecho extraído do livro “50 anos de 
Orquestra Sinfônica em Ribeirão Preto 1938-1988” de Myriam de Souza Strambi, Ed. Legis Summa Ltda)

Gisele Haddad

arquivohistorico@osrp.org.br

Publicado na Revista Movimento Vivace Ano III nº23 abril de 2010