7 de agosto de 2011

Luiz Baldo – 100 anos

 

Luiz Baldo  100 anos - 21/07/2009



Homenagem ao senhor Luiz José Baldo, fundador e ex-músico da OSRP, por ocasião de seu aniversário de 100 anos. 

Dados gentilmente cedidos por sua filha Maria Lúcia Baldo Carvalho.




Luiz José Baldo nasceu dia 21 de julho de 1909 em Villa Bonfim, depois chamada Gaturamo e hoje Bonfim Paulista. Filho de Giovani Baldo e Giusta Marchini Baldo (Beatriz), imigrantes italianos. Foi o segundo de dez irmãos: Alfredo (falecido), Elvira, Santa, Romeu (falecido), Mário (falecido), Celina (falecida), Arthemis, Gilberto e Aidê. Durante a infância viveu na fazenda onde seu pai era administrador e, segundo relatos pitorescos, esperava as galinhas botarem os ovos para tomá-los quentinhos. Fez o ensino fundamental em Bonfim Paulista onde também foi coroinha da igreja matriz, sendo o único sobrevivente a ser homenageado por ocasião do centenário da referida igreja. 
Saía às cinco horas da manhã no trem da Mogiana para estudar música em Ribeirão Preto, sendo que inicialmente estudou piston e depois violino, instrumento de sua vocação e companheiro fiel. 
Trabalhava como barbeiro ambulante e ainda jovem, nas horas vagas fazia apresentações de sua Jazz Band na residência de seus pais. Conforme relato de familiares não se tem idéia de como iniciou sua paixão pela música: “um dia viu, ouviu e se apaixonou pelo instrumento que seria seu companheiro inseparável, o violino”. 

Foi seu professor de violino Antônio Bernardes, o Chichilo, violinista da Orquestra Sinfônica Brasileira (RJ), que não cobrava as aulas por verificar a habilidade nata de seu pupilo que era arrimo de família e não tinha condições financeiras para estudar música. 

Devido ao seu esforço e talento com o instrumento, foi convidado por Chichilo a ingressar na Orquestra Sinfônica Brasileira, mas os problemas familiares obrigaram-no a declinar do convite, tristeza que o acompanhou por toda a vida. 

Por muitos anos tocou na rádio PRA-7 e no restaurante Pinguim. Tocou também para acompanhar filmes no final da era do cinema mudo e nos bailes de carnaval quando os instrumentos de corda ainda eram requisitados. 
Em 1937 casou-se com Josephina Fazolin, sua maior incentivadora, recentemente falecida após 71 anos de casados, com a qual teve sete filhos, sete netos e seis bisnetos. 

Com seus inseparáveis amigos: Zezé Gumerato, Edul Rangel, Caetano Lania, Manecão, Gelfuso e outros mais, ajudou a fundar em 1938, a Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto, onde foi spalla por muitos anos e a construir sua atual sede com contribuições mensais. Sobre este fato sua filha Maria Lúcia sempre ouvia os comentários de sua mãe “a nossa renda é pequena mas, sobra para seu pai contribuir monetariamente com a construção da sede onde eles poderão ensaiar com maior comodidade e liberdade”. 

Nas horas vagas estudava com afinco e não descuidava de suas mãos preservando-as de trabalhos pesados que pudessem interferir nas articulações de seus dedos. Assim, poderia interpretar com esmero: Scherazade, Czardas, Humoresque, além de executar os concertos n. 1 e 2 de Paganini e o Concerto de Mendhelson. No caso de dúvidas de interpretação, ele as tirava com os solistas que vinham fazer concertos com a OSRP. 

A dedicação à OSRP sempre foi tanta que na ocasião da morte de sua mãe, Luiz Baldo e seus irmãos deixaram o velório para a apresentação do concerto marcada para aquele triste dia. A responsabilidade não o deixava falhar. 

Conseguiu seu diploma de violino através da irmã Sandra Salgado, diretora do conservatório Sagrado Coração de Jesus de Jardinópolis, onde foi contratado para lecionar e incentivado a prestar exame perante uma banca federal, assim poderia assinar os documentos dos alunos. Dedicou-se ao estudo de matérias complementares de música, vindo a graduar-se em 12/13/1958, contava então com 49 anos de idade. 

Em todas as atividades do Conservatório, apresentava-se com a irmã Sandra que acompanhava ao piano. Assim, aprimorou-se nas interpretações dos concertos de grande dificuldade e orgulhava-se de suas execuções. 

Lecionou violino também no Conservatório de Uberaba, mas não deixava de lado as serestas de fins de semana. Unido a outros intérpretes tocou na maioria dos eventos e casamentos da sociedade ribeirãopretana. 

Paralelamente às suas atividades de barbeiro e músico, ingressou nos Correios e Telégrafos, na função de carteiro, trabalho árduo que necessitava de muita energia Porém com sorriso nos lábios, sua característica, nunca desanimou em andar de bicicleta de sol a sol e de chuva a chuva, mesmo nas festas de final de ano, a quais muitas vezes deixava de participar com sua faília para atender as necessidades de sua profissão. Aposentou-se como postalista e chefe da 4ª secção da ECT de Ribeirão Preto. 

Entregando cartas para Dr. Luiz Gaetani e esposa, comentava com eles sobre a Sinfônica, sendo o responsável por levá-los a freqüentar os concertos. A partir daí surge um presidente dedicado a vida e sobrevivência de nossa Orquestra Sinfônica, por anos a fio. 

Incentivados por Luiz Baldo, seus irmãos começaram, um a um a também participar de sua vida musical na Orquestra, assim como filhas, irmãs e sobrinhos. Seus irmãos Alfredo Baldo: iniciou com o clarinete, depois oboé e finalmente fagote; Romeu Baldo: executava flauta, não na orquestra, mas depois fez parte do coral como tenor; Gilberto Baldo: executava violino e foi participante da dirtoria da Orquestra por vários anos. No coral participaram também suas filhas Valderez e Maria Lúcia que esporadicamente ajudava nos ensaios do coral ao piano ou cantando. Seu filho, José Everardo, participou da vida da Orquestra recuperando instrumentos de cordas e fabricação de arcos e acessórios. 

Com idade avançada, começou a estudar os concertos de Beethoven e Bruch, mas uma esquemia cerebral cortou sua carreira vindo a tirar-lhe das mãos sua maior paixão – o violino. Calaram-se os acordes ao cair de todas as tardes. No ar, ainda pairam suas melodias a incentivar a todos, pois a música purifica a alma e traz alegria, sua característica marcante; estava sempre rodeado de amigos. Muitos deles já se foram, aqui Luiz Baldo permanece, como um exemplo vivo de uma vida dedicada à arte – 100 anos de existência e de lutas, sem esmorecimento... 

Desde que iniciei meus estudos sobre a música de Ribeirão Preto, especificamente sobre a OSRP, me emociono ao deparar com documentos, pessoas e narrativas que são de grande importância para a memória da cidade e nem sempre reconhecidas. Aproveito a oportunidade para agradecer a colaboração de Maria Lúcia Baldo Carvalho, estando certa de que, de alguma maneira, pudemos fazer algo para que a nossa história da música, a história da OSRP não caia no esquecimento e que nomes como o de Luis Baldo e seus companheiros possam ser lembrados como exemplo de idealismo, luta e paixão pela música.

Ficha de Identificação da Sociedade Musical de Ribeirão Preto, mantenedora da OSRP e fundada em 1938. 
Fonte: Arquivo Luiz Baldo.

    Foto da Família -11/11/1977 - 40 anos de casados. 
Fonte: Arquivo Luiz Baldo.



Luiz Baldo acompanhado de sua filha Maria Lúcia ao piano no Conservatório de Jardinópolis em 19/12/1959.
Fonte: Arquivo Luiz Baldo.

Gisele Haddad

arquivohistorico@osrp.org.br

Artigo Publicado na Revista Movimento Vivace Ano II nº 18